Pedro Soares, da plataforma Convergência, que tem vindo a fazer oposição interna à direção bloquista, sublinhou que "o Bloco teve uma derrota eleitoral muito vincada, perdeu influência eleitoral e perdeu força relativa no parlamento".
Ainda assim, o antigo deputado não acredita que o resultado seja culpa da "bipolarização".
"Também houve bipolarização noutras eleições em que o Bloco conseguiu resistir, crescer, veja-se o caso, por exemplo, de 2015", argumentou, apontando que "a análise tem de ser mais aprofundada.
O antigo deputado por Braga na XIII legislatura responsabiliza, sim, a estratégia de aproximação do BE ao PS.
"Não tenho dúvida nenhuma que esta diluição da linha tática do Bloco de Esquerda, tendo como objetivo um acordo com o Partido Socialista, teve um papel central" nos vários resultados eleitorais desde 2019, disse.
"Desde as eleições de 2019, o Bloco nunca se assumiu como uma oposição clara e frontal", defendeu Pedro Soares, considerando que o BE concentrou toda a sua "orientação na reedição e na manutenção da 'gerigonça', num acordo com o Partido Socialista".
No entanto, e apesar da maioria absoluta do PS, Pedro Soares sublinhou que tal "não quer dizer que o Bloco não deva -- e com certeza que vai fazê-lo -- assumir-se como uma oposição influente e combativa dentro do parlamento".
Para o futuro, e enquanto aguarda a análise da comissão política, Pedro Soares disse que é necessário "resgatar o Bloco das suas origens".
"Temos de resgatar o Bloco das suas origens: combativo, inovador, bem afirmado politicamente, com iniciativa política, com ligação aos movimentos sociais. É esse o Bloco que precisamos de novo, e vamos ter de o reconstruir, porque o Bloco faz falta na esquerda e faz falta ao país", concluiu.
O antigo deputado por Santarém Carlos Matias, igualmente da plataforma Convergência, considera que vai ser preciso fazer "um balanço profundo" do resultado eleitoral.
"Foi obviamente uma derrota e vejo-a com muita preocupação pelo futuro", disse à Lusa Carlos Matias.
O deputado, voltou a ser o escolhido pela distrital de Santarém para cabeça de lista, numa decisão que foi contrariada pela Mesa Nacional bloquista, acredita que o resultado das eleições de domingo, cujos dados provisórios do Ministério da Administração Interna apontam para uma redução da representação parlamentar do BE de 19 para cinco deputados, são atribuíveis à aproximação do partido ao PS.
"O que levou a este resultado foi a continuidade de uma política condicionada ao permanente pedido de acordo com o Partido Socialista. É uma linha que se consolidou como linha estratégica do Bloco em 2018, à roda disso, e que, mais cedo ou mais tarde, a meu ver, ia dar mau resultado", sublinhou o ex-deputado.
Perante o resultado, Carlos Matias diz que "essa linha faliu" e que a Comissão Política e a Mesa Nacional do partido terão agora de tirar "as consequências da falência" desta linha.
O PS alcançou a maioria absoluta nas legislativas de domingo e uma vantagem superior a 13 pontos percentuais sobre o PSD, numa eleição que consagrou o Chega como a terceira força política do parlamento.
Com 41,7% dos votos e 117 deputados no parlamento, quando estão ainda por atribuir os quatro mandatos dos círculos da emigração, António Costa alcança a segunda maioria absoluta da história do Partido Socialista, depois da de José Sócrates em 2005.
O PSD ficou em segundo lugar, com 27,80% dos votos e 71 deputados, a que se somam mais cinco eleitos em coligações na Madeira e nos Açores, enquanto o Chega alcançou o terceiro lugar, com 7,15% e 12 deputados, a Iniciativa Liberal (IL) ficou em quarto, com 5% e oito deputados, e o Bloco de Esquerda em sexto, com 4,46% e cinco deputados.
A CDU com 4,39% elegeu seis deputados, o PAN com 1,53% terá um deputado, e o Livre, com 1,28% também um deputado. O CDS-PP alcançou 1,61% dos votos, mas não elegeu qualquer parlamentar.
A abstenção desceu para os 42,04% depois nas legislativas de 2019 ter alcançado os 51,4%.
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