Na sua intervenção inicial perante os conselheiros, posteriormente disponibilizada à comunicação social, Rui Rio manifestou-se "100% disponível" para uma solução em que deixasse a liderança até ao verão, como já tinha admitido após a derrota eleitoral.
"Estarei disponível um bocadinho até para uma coisa que não seja exatamente assim, mas não se exagere muito. Se exagerarem muito acabou, porque não quero sequer ficar ligado ao futuro do que será o partido se isso centrar numa situação dessas. Quem tem bom senso percebe o que estou a dizer", avisou.
Rui Rio afirmou que está a ouvir o Conselho Nacional, defendendo que este órgão "não pode deliberar nada" hoje, apesar de existirem propostas em cima da mesa para que o calendário eleitoral interno seja marcado no máximo em dez dias.
"Outra coisa é todos terem direito à sua opinião, a partir daí a Comissão Política Nacional aqui virá, num próximo Conselho Nacional, apresentar uma data para congresso e diretas", assegurou.
Rui Rio fez questão de dizer que "sair já", na sua opinião, não significa sair "para a semana", mas até ao verão, no final dos trabalhos parlamentares.
"Se não for nesse espaço de tempo até ao verão e tiver de ser mais rápido, estarão aqui a debater qualquer coisa como 30 ou 40 dias mais todos os tumultos e degradação da nossa imagem na praça pública", alertou.
O presidente do PSD apontou, do ponto de vista teórico, duas outras balizas temporais: a primeira seria fazer as eleições diretas apenas no final de mandato, daqui a dois anos, considerando que teria "a vantagem de poupar o próximo líder a um desgaste muito difícil de aguentar" e evitar três congressos".
"Mas isso, para mim, nem é objetivo concreto que esteja disponível para fazer, poderei estar disponível se me indicarem objetivos concretos reais para ser útil ao partido e ao país, para este efeito não, porque não tem utilidade", disse.
Pelas mesmas razões, o presidente do PSD afastou igualmente a possibilidade de realizar diretas apenas no final deste ano ou início do próximo.
Rio disse até estranhar "a ânsia" de quem quer ocupar o seu lugar, dizendo que exige "um espírito de sacrifício enorme", e salientou que até detém um "recorde nacional".
"Não há ninguém que tenha resistido quatro anos na liderança da oposição", afirmou, recebendo aplausos quando disse só estar no cargo por "espírito de missão".
Sobre as legislativas, em que o PSD se ficou pelos 29% e com menos um deputado do que em 2019, Rio assumiu que o resultado "foi negativo", mas apontou quatro razões principais.
O voto útil "fortíssimo à esquerda", o crescimento "muito forte da população dependente de subsídios" e do Salário Mínimo Nacional, e as "promessas fáceis" que considera terem sido feitas pelo PS.
Por fim, disse não conseguir sequer entender "a deturpação que o PS fez do programa eleitoral" do PSD, ao longo da campanha eleitoral.
Já sobre o "deslocamento do eleitorado para a direita" - da extrema-esquerda para o PS e do PSD para a direita - atribuiu-as a causas sobretudo estruturais.
"Há um desgaste do regime que nasceu há quase 50 anos, tudo na vida tem um princípio e um fim e o que leva ao fim é o desgaste do tempo", defendeu, apontando a necessidade "imperiosa" de fazer reformas.
"A solução não é obviamente o PSD deixar de ser social-democrata e colar-se à direita. A solução é termos uma capacidade crescente e reforçada para conquistar pessoas para a nossa proposta", defendeu.
O Conselho Nacional do PSD está reunido para fazer a análise dos resultados das legislativas e debater o modo e o tempo da saída de Rui Rio da liderança do partido.
Na ordem de trabalhos da reunião, está a aprovação das contas do partido e, num segundo ponto, a "análise dos resultados das eleições legislativas e da situação política e decisão sobre processo eleitoral para os órgãos nacionais do partido".
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