No final da reunião do Conselho Nacional do PSD, que se realizou hoje em Barcelos (Braga), Paulo Mota Pinto considerou que foi um conselho "muito participado" e que decorreu sob uma "tónica geral de serenidade".
Quanto à proposta aprovada, subscrita por 17 das 19 distritais do partido, para que, num prazo máximo de vinte dias, se realize uma nova reunião deste órgão para aprovar o calendário de eleições diretas e Congresso, Mota Pinto salientou que "ficou claro aos conselheiros que esse prazo depende da vontade" do presidente do partido e da Comissão Política Nacional (CPN).
"O processo eleitoral só pode ser aberto por iniciativa do presidente do partido", disse, salientando que Rui Rio foi eleito em novembro do ano passado e o Conselho Nacional "não tem poder" de interromper esse mandato obtido em sufrágio direto de todos os militantes.
Questionado se houve alguma garantia por parte da direção ou do presidente que o próximo Conselho Nacional vai mesmo realizar-se num prazo de vinte dias, Mota Pinto escusou-se a fazer "futurologia".
"Não posso dizer. O que foi assumido pelo presidente foi que, dentro da tranquilidade e calma que devem caracterizar o processo, ficou claro que, até ao final do primeiro semestre ou até ao final da sessão legislativa - interpretada como antes de verão - tudo isso estará resolvido", afirmou.
Para o dirigente, a reunião de hoje "ratificou a proposta de calendário que o presidente tinha apresentado" dias depois de derrota eleitoral de 30 de janeiro, quando Rui Rio afirmou que iria deixar a liderança do PSD, admitindo ficar, no máximo, até ao início de julho.
Questionado se Rui Rio ainda poderá ser líder no último debate parlamentar antes das férias, o 'Estado da Nação', tradicionalmente no final de julho, Mota Pinto disse não poder precisar.
Já sobre se Rui Rio terá de apresentar a demissão formal para que o processo eleitoral interno de escolha do sucessor seja desencadeado, o presidente do Conselho Nacional considerou que "não tem de haver um ato específico de demissão".
"A demissão é, digamos, um ato que está implícito na apresentação pela Comissão Política de um calendário de proposta de realização de eleições", apontou.
Paulo Mota Pinto escusou-se a apontar uma data certa para a realização das diretas ou do Congresso, admitindo que terá de distar um mês entre um ato e outro, o que poderá significar eleições internas em junho e reunião magna no final do mesmo mês ou início de julho.
"Não lhe posso dar uma data certa, haverá outro Conselho Nacional onde isso será formalmente deliberado, depois de haver uma proposta nesse sentido da CPN", resumiu.
No final de seis horas de reunião, o Conselho Nacional do PSD, que tinha na ordem de trabalhos a análise das eleições legislativas e a "decisão sobre processo eleitoral para os órgãos nacionais do partido", terminou com poucos avanços sobre o calendário interno e nenhum quanto a possíveis candidatos à liderança.
Rejeitada pelo Conselho Nacional foi uma outra proposta, apresentada pelo líder da distrital de Faro Cristóvão Norte, que pedia um Congresso extraordinário antes das diretas (para reflexão e revisão estatutária).
Apesar de ter merecido o apoio público de Miguel Pinto Luz - que encabeçou no último Congresso a segunda lista mais votada, com 14 conselheiros -, esta proposta apenas contou com 12 votos a favor.
Pelo Conselho Nacional passou também Ribau Esteves, que se mantém em reflexão sobre se será candidato à liderança pelo menos até haver calendário, numa reunião que contou com uma análise detalhada por parte de Rui Rio das razões da derrota eleitoral nas legislativas, em que o PSD se ficou pelos 29% e com menos um deputado do que em 2019.
O presidente do PSD assumiu que o resultado foi "muito negativo" e apontou quatro razões principais, todas externas ao partido e à sua direção.
O voto útil "fortíssimo à esquerda" e o crescimento "muito forte da população dependente de subsídios" e do Salário Mínimo Nacional foram duas delas, conjugadas com as "promessas fáceis" e a "deturpação" do programa eleitoral do PSD, que considera terem sido feitas pelo PS durante a campanha.
Já sobre o "deslocamento do eleitorado para a direita" - da extrema-esquerda para o PS e do PSD para a direita - Rio atribuiu-as a causas sobretudo estruturais, relacionadas com o desgaste do regime.
"A solução não é obviamente o PSD deixar de ser social-democrata e colar-se à direita. A solução é termos uma capacidade crescente e reforçada para conquistar pessoas para a nossa proposta", defendeu.
O próximo Conselho Nacional do PSD deverá assim realizar-se até 11 de março, mas só se Rui Rio e a sua direção abrirem o processo eleitoral antes desta data e fizerem uma proposta de regulamento e cronograma de eleições diretas e Congresso.
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