O comentador político Luís Marques Mendes admitiu este domingo ter "um grande orgulho em ser europeu", depois das sanções contra a Rússia aprovadas em Bruxelas, este fim de semana, em consequência da intervenção militar na Ucrânia.
"Este fim de semana, a Europa, em vários planos, foi àquilo que dói", defendeu, dando o exemplo da retirada de vários bancos do sistema SWIFT e o apoio militar à Ucrânia. "São medidas corajosas."
No espaço habitual de comentário aos domingos na antena da SIC, o social-democrata reconheceu que "num primeiro momento", o Ocidente "deu um sinal de hesitação", tendo ficado aquém das expectativas, mas acredita que as manifestações de cidadãos, um pouco por todo o mundo, em solidariedade com a Ucrânia, tenha exercido alguma influência sobre os líderes europeus.
Tenho um grande orgulho, hoje, em ser europeu. Por um lado, pela manifestação de solidariedade da cidadania; por outro, pelos líderes europeus."
Na visão do conselheiro de Estado, a intervenção russa na Ucrânia foi premeditada e "com uma grande antecedência".
"Putin mentiu ao mundo inteiro. Durante os dias e as semanas anteriores a esta guerra, ele mentiu ao presidente Macron, mentiu ao chanceler alemão, ele mentiu ao mundo inteiro dizendo: "não estamos a preparar uma intervenção bélica"", apontou. "Estava tudo preparado. Isto foi tudo premeditado e com uma grande antecedência."
"E a maior prova disto tudo é no plano financeiro. Putin preparou-se, com tempo, para aquilo que já imaginava que iam ser sanções económicas duras da parte do Ocidente", referiu.
Para Marques Mendes, o presidente da Rússia só percebe a "linguagem da firmeza" e, quando os "Estados Unidos e a Europa são fracos, "ele abusa".
Assim sendo, para o comentador, foram importantes as medidas avançadas este fim de semana, já que o conflito tem sido, sobretudo entre quinta e sexta-feira, "profundamente desigual".
"Com as medidas tomadas pela União Europeia (UE) ontem e hoje, continua a ser desigual mas é menos desigual", sublinha, já que a Ucrânia vai ser dotada de mais armamento.
De outro ponto de vista, afirma, esta guerra "tem outra desigualdade", opondo uma ditadura a uma democracia, o que se traduz no facto de que, na Rússia, quem "tem coragem de se manifestar é preso".
Ainda no plano das sanções económicas, Luís Marques Mendes reforça que estas "eram a única solução" e que "era impossível uma intervenção militar". Desde logo, porque a Ucrânia não é membro da NATO mas, em última instância, porque a Rússia "tem armas nucleares e isso podia espoletar uma terceira Guerra Mundial".
Na ótica do social-democrata, "Putin pode ser muito inteligente, bem preparado, muito frio a tomar decisões, mas já cometeu pelo menos quatro erros muito graves", o primeiro dos quais "desvalorizar a unidade da UE".
"Acho que ele apostou tudo em ter divisões dentro da União Europeia e os 27 serem incapazes de se entender para tomar medidas eficazes", considerou Marques Mendes.
Em segundo lugar, o comentador defende que o presidente russo desvalorizou "a resistência ucraniana". "Desvalorizou o presidente, que tem sido um grande exemplo de coragem, e a resistência do povo ucraniano", afirmou.
Por fim, Putin "deu importância em demasia aos seus amigos", como é o caso da China, e "também falhou no domínio da opinião pública".
"Putin tem, de facto, uma supremacia enorme em termos militares, mas eu acho que está a cometer alguns erros graves e por isso, ao final do quarto dia, ainda não tomou Kiev", concluiu.
A situação é preocupante, estamos a lidar com um louco perigoso, mas eu acho que a Rússia dá sinais de desespero e a forma de lidar com Putin, como dizia há pouco, não é a fraqueza, é a firmeza."
PCP "não tem coragem de condenar abertamente" a Rússia
O antigo líder do PSD condenou ainda a posição dos comunistas em relação à agressão russa contra a Ucrânia.
"É inacreditável. Perante uma invasão, uma agressão desta natureza, não têm coragem de condenar abertamente, severamente, a Rússia e o seu regime? Um regime corrupto, oligarca", acusou.
Marques Mendes disse ainda que um "partido como o Partido Comunista, que lutou clandestinamente contra a ditadura, está neste momento direta ou indiretamente a validar uma ditadura" e sublinhou que Vladimir Putin é "o maior financiador dos partidos de extrema-direita da Europa, que o PCP diz combater".
"É uma exceção à regra muito lamentável", considerou.
[Notícia atualizada às 00h23]
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