ONU? "Espero que Guterres não tenha sido cilindrado por Lavrov"
Antiga eurodeputada critica ausência da ONU no cenário da invasão russa à Ucrânia.
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Política Rús
Ana Gomes questionou, este domingo, o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na guerra na Ucrânia, pedindo uma intervenção mais “ativa” por parte de António Guterres. A antiga eurodeputada entende ainda que “é preciso levar a sério” o presidente russo, Vladimir Putin.
No seu comentário habitual na SIC Notícias, Ana Gomes começou por referir que Putin “desencadeou esta agressão porque pode” e criticou: “Receio que do nosso lado ele [Putin] esteja todos os dias a receber sinais de que pode. Ele é um provocador, tem atitudes que nos encostam à parede e nós deixamo-nos encostar”.
A ex-eurodeputada considera que “não vale a pena dar a ideia de que estamos protegidos” e que “é preciso levar a sério Putin”, apontando como exemplo o ataque a uma base militar a 26 quilómetros da fronteira com a Polónia, este fim de semana.
“Este ataque junto à fronteira polaca, onde era sabido que havia armamento europeu e americano, vem na linha do aviso que tinha sido feito nestes últimos dias”, disse, referindo-se à “declaração de guerra” por parte da Rússia.
“Não podemos pretender que não estamos na guerra, estando, porque estamos, porque esta guerra foi desencadeada também sobre nos, é sobre o modo de vida em liberdade e democracia”, alertou.
Para Ana Gomes, o risco de um ataque nuclear é real, e Putin tem feito sucessivas “provocações” ao longo dos anos.
“Encolhemos os ombros, aprovamos umas moções e mais nada (…) Eu acho que foi um grande erro retirar-se de cima da mesa a ideia de uma zona de exclusão aérea, que mesmo que não se tivesse intenção de fazer, não se devia ter retirado de cima da mesa, da retórica (..) Se respondermos ficamos em controlo, se não, quando temos pela frente um indivíduo com a cabeça de Putin e o que ele representa, a tendência é ele estar em escalada a testar-nos”, acrescentou, admitindo que estamos “numa situação muito complicada”.
“Putin só conhece uma linguagem, que é a da força, e quando nós damos sinais de contenção, ele interpreta como fraqueza e avança mais um pouco”, avisou.
Foi neste ponto que a comentadora questionou a falta de intervenção por parte do secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Acho dramático que a ONU esteja tão desaparecida de combate - político e negocial”, lamentou, falando depois do ataque “descabelado” do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, a Guterres, para o “intimidar”.
“Espero que ele não se intimide”, sublinhou. “Espero que não tenha sido cilindrado por Lavrov”, acrescentou, pedindo um papel mais “ativo” por parte da ONU, tal como aconteceu no início da invasão russa à Ucrânia, e alertando que repercussões do conflito que já se sentem para lá da Europa.
A antiga eurodeputada apontou ainda o dedo à União Europeia (UE), em particular à Alemanha, por aquilo que considera “uma contradição total, escandalosa e insuportável”.
“A UE diz que esta a apoiar a Ucrânia, mas continua a financiar a guerra de Putin, porque estamos a pagar 700 milhões por dia pelo gás que alguns países, em particular a Alemanha, ainda importam”, disse.
A comentadora entende que há outras alternativas e que, segundo estudos realizados por economistas alemães, o impacto na economia alemã seria de entre 0.5% a 3%, “menos do que teve a pandemia, que foi 4.5%”. Ana Gomes considera que há fontes alternativas como o fornecimento de gás e petróleo por parte da Noruega, Argélia ou Azerbaijão.
“É insuportável esta posição”, apontou. “Espero que a próxima manifestação seja em frente à embaixada da Alemanha”, afirmou, considerando que, desta forma, estamos a “prolongar” a guerra, uma vez que continuamos a dar dinheiro à Rússia.
No seu comentário, Ana Gomes acabou ainda por falar dos preços dos combustíveis em Portugal e criticou o facto de se usar “o pretexto da guerra” para justificar o aumento destes preços.
“Estamos numa economia de guerra, uma nova era e os governos também têm de interiorizar que o combustível é tão importante como o pão. O Estado encheu, à conta do ISP, a barriga com cerca de 600 milhões nos últimos cinco anos e depois quer-nos distribuir ‘migalhinhas’?”, questionou. A antiga eurodeputada defendeu que tem de haver uma descida do IPS e do IVA.
Recorde-se que a Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou, segundo dados da ONU, pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil. Mais 4,5 milhões de pessoas já fugiram do país.
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