Zelensky no Parlamento? PCP não quer porque apela a "escalar da guerra"

O comunista garantiu ainda que o presidente russo, Vladimir Putin "sempre mereceu" a oposição do partido.

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Ema Gil Pires
13/04/2022 09:33 ‧ 13/04/2022 por Ema Gil Pires

Política

PCP

Bernardino Soares, antigo presidente da Câmara Municipal de Loures em representação do Partido Comunista Português (PCP), explicou, na segunda-feira, num espaço de debate da CNN Portugal, as "três razões fundamentais" para que o partido tenha tomado a posição de votar contra a proposta do PAN, entretanto aprovada, que previa que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discursasse no Parlamento português.

"A primeira é uma razão institucional", começou por elaborar o comunista. "A Assembleia da República é um órgão de soberania que tem de respeitar determinadas regras e que não pode ser um instrumento de intervenção, de propaganda ou mediática, numa situação tão complexa quanto esta", elaborou, referindo-se especificamente ao contexto da guerra na Ucrânia.

A este propósito, Bernardino Soares lembrou que no Parlamento "só falam presidentes de outros países" que tenham "relações especiais" com Portugal, como tem até agora acontecido com "os presidentes dos países de Língua Portuguesa, o presidente francês, e uma vez, também, o presidente dos Estados Unidos".

Uma "segunda razão" para tal tomada de posição do PCP passa pelo "conteúdo das intervenções do presidente Zelensky" nos Parlamentos de outros países. O comunista considerou que o chefe de Estado ucraniano tem vindo a "apelar a uma escalada da guerra", ao "querer que a NATO intervenha no conflito" e que haja uma maior "distribuição de armamento".

"Tem vindo, por exemplo, a pedir que a NATO intervenha no espaço aéreo da Ucrânia. O que significaria uma escalada na Guerra, que poderia levar a uma III Guerra Mundial", acrescentou ainda o ex-presidente da Câmara Municipal de Loures. 

O político considerou ainda que, enquanto discursava perante o Parlamento grego, Zelensky "pôs a correr um vídeo de um representante de uma brigada neonazi". "Isto é, de facto, uma situação que não condiz com o que deve ser a Assembleia da República", apontou ainda.

Bernardino Soares salientou um terceiro ponto, através do qual lançou uma questão: "O que é que vai adiantar para o caminho da paz esta intervenção?". Na sua perspetiva, a mesma "não vai adiantar para nada". Posto isto, concluiu, a Assembleia da República "não devia ser parte de uma encenação que vai acabar por acentuar a escalada da guerra e a retórica" da mesma.

Putin "sempre mereceu a nossa oposição"

Perante esta tomada de posição do PCP face à intervenção do presidente Zelensky no Parlamento português, o comunista disse que o partido "assumiu as posições que entende serem corretas neste momento". Porém, garantiu que as mesmas "não são as de apoiar Putin, que como é evidente sempre mereceu a nossa oposição".

E prosseguiu, acusando outros responsáveis políticos, tanto nacionais como internacionais: "Não fomos nós que fomos reunir 'n' vezes com Putin. Mas foi, sim, o ministro Santos Silva, foi Durão Barroso, foi Joe Biden. Nunca houve, desde que Putin está no poder, nenhuma aproximação do PCP às posições de Putin, muito pelo contrário. E nesta situação também não".

Apesar de considerar que a "invasão da Rússia violou o Direito Internacional e foi uma coisa negativa", Bernardino Soares defendeu que essa "não é toda a verdade". "E é preciso ter espaço para discutir todas as questões. Porque se nós não discutirmos tudo o que levou a esta situação, com todos os responsáveis, não vamos encontrar um caminho certo para a paz. Porque a paz só vai existir quando se encontrar uma solução que tenha em conta todos os fatores e seja aceite pelas duas partes", elaborou.

O antigo presidente da Câmara Municipal de Loures criticou ainda o "conjunto de pessoas que sempre aproveita qualquer oportunidade para procurar pôr um ponto final na vida do PCP". No seu ponto de vista, "essas não estão preocupadas com a Ucrânia, nem com as pessoas da Ucrânia, estão preocupadas em utilizar esse pretexto para atacar o PCP".

A Rússia lançou, a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior. Após 49 dias de invasão, a guerra causou já a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de 4,5 milhões das quais para os países vizinhos.

Leia Também: Ucrânia: Posição do PCP não é só "teimosia, é insensibilidade política"

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