Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o líder do Chega notou que Mário Centeno e o Governo têm posições contrárias em relação ao aumento dos juros por parte do Banco Central Europeu (BCE).
"Segundo Mário Centeno, os juros devem aumentar como forma de conter a inflação. Isto é uma posição como qualquer outra, não fosse o facto de o primeiro-ministro e o Governo terem fortemente atacado a direita no debate do Orçamento do Estado precisamente por causa dos juros como forma de combater a inflação", afirmou.
André Ventura criticou que se trata de "o Governo dizer uma coisa em Portugal e o governador do Banco de Portugal dizer outra coisa em Bruxelas", o que classificou de uma "tremenda hipocrisia política".
"Isto significa que Mário Centeno deixou de representar os interesses de Portugal e deixou de representar os interesses do Governo português em Bruxelas", defendeu.
O presidente do Chega considerou que o antigo ministro das Finanças "não deve continuar a ser o governador do Banco de Portugal, uma vez que não representa neste momento os interesses de Portugal, está a ser prejudicial a esses interesses e está a contrariar deliberada, objetiva e frontalmente aquilo que defendeu quer Fernando Medina, que é ministro das Finanças, quer António Costa, que é primeiro-ministro".
Ventura nunca disse, contudo, que o governador do Banco de Portugal é independente e não pode ser exonerado pelo Governo, a não ser em condições excecionais, se tiver cometido "falha grave" ou se deixar de preencher os "requisitos necessários" ao exercício do cargo.
"Há uma desarticulação de posições, uma desconformidade de posições e que o governador do Banco de Portugal não tem condições de continuar no cargo", insistiu, considerando que "a posição de Mário Centeno está a prejudicar a economia portuguesa, está a prejudicar as famílias portuguesas e está a prejudicar, sobretudo, a massa brutal de crédito à habitação" em Portugal "e que vê a sua prestação aumentar, nalguns casos, 50%".
Aos jornalistas, André Ventura anunciou também que o Chega vai propor à comissão de Orçamento e Finanças a audição, "com caráter de urgência", do governador do Banco de Portugal, para que Centeno explique ao parlamento "a contradição com o seu Governo e com o ministro das Finanças, e a forma como espera agora resolver a situação, visto que há em breve uma nova reunião do BCE e dos governadores dos bancos centrais europeus".
"Queremos saber que posição Mário Centeno vai ter em Bruxelas, porque Mário Centeno não está como governador do Banco de Portugal para dizer aquilo que pensa, está para representar os interesses de Portugal e da política económica, monetária e financeira portuguesa, e é isso que não está a fazer neste momento, está a defender as suas convicções pessoais, em completa contrariedade com o que o Governo disse", defendeu.
Numa entrevista publicada na edição de hoje, em papel e online, do diário Público, Centeno considerou que não combater a inflação através de aumentos das taxas de juro não é uma opção para o BCE e que teria "um custo recessivo maior".
Questionado sobre as medidas anunciadas hoje pelo Governo para os créditos à habitação, o presidente do Chega considerou que "ficam muito aquém daquilo que o mercado precisaria neste momento".
Ventura apontou como "positivo o Governo obrigar a banca a negociar em certas condições, quando a taxa de esforço tem um certo peso, em favor dos clientes", mas criticou que o executivo "não se compromete com um apoio direto" para ajudar as famílias a suportar o aumento das prestações, como o seu partido vai propor como alteração ao Orçamento do Estado.
[Notícia atualizada às 17h42]
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