O Bloco de Esquerda quer ouvir o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, no Parlamento, na sequência da reportagem SIC sobre a prática de crimes de ódio nas redes sociais por parte das forças de segurança portuguesas.
"Acho que a maioria das forças de segurança não são racistas, não cometem crimes", comentou Mariana Mortágua, quando questionada sobre se, a confirmar-se que 591 agentes das forças de segurança têm um discurso de ódio nas redes sociais, esta questão não mancharia o setor. "É óbvio que quando uma minoria, ainda assim expressiva, o faz, isso coloca em causa a credibilidade e dignidade das forças de segurança - revela um problema estrutural", acrescentou, dizendo também que é por isso que o partido quer ouvir o responsável pela pasta.
"É importante garantir que o Governo tem tolerância zero relativamente a este tipo de crimes", afirmou ainda a deputada.
Mortágua sublinhou também que o conteúdo das mensagens dadas a conhecer pela reportagem são "irrelevantes" e que "o importante a reter é que - a confirmarem-se as conclusões desta investigação - há mais de cinco centenas de agentes que cometeram crimes. E que não são crimes quaisquer. São crimes de ódio. São crimes de incitamento à violência", explicou.
"É preocupante quando as denúncias revelam uma infiltração da extrema-direita violenta dentro das forças de segurança, que devem defender todas e todos", considerou.
A responsável disse ainda - mais do que uma vez - que Portugal já "tem vindo" a ser apontado nos relatórios internacionais como um país onde "este problema de violência, racismo e política de ódio" existem entre a autoridade. Mas apesar das conclusões já conhecidas Mortágua sublinhou: "Não vamos tomar a parte pelo todo.
No rescaldo de 'Quando o ódio veste a farda'
Após a emissão da reportagem 'Quando o ódio veste farda' na SIC, em parceria com o Público, o Expresso e o Setenta e Quatro, o ministro da Administração Interna determinou, na quarta-feira, a abertura de um inquérito sobre a alegada publicação, por agentes das Forças de Segurança, de mensagens nas redes sociais com conteúdo discriminatório.
Em comunicado, José Luís Carneiro referiu que determinou à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito "imediato" para apuramento "da veracidade dos indícios contidos nas notícias de ontem sobre a alegada publicação, por agentes das Forças de Segurança, de mensagens nas redes sociais com conteúdo discriminatório, incitadoras de ódio e violência contra determinadas pessoas".
"Estas alegadas mensagens, que incluem juízos ofensivos da honra ou consideração de determinadas pessoas, são de extrema gravidade e justificam o caráter prioritário do inquérito agora determinado à IGAI", acrescentou a tutela.
A Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública garantiu que sempre que tem conhecimento de algum caso comunica-o às entidades judiciais competentes.
O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia afirmou, esta quarta-feira estranhar o contexto em que foi divulgada a reportagem sobre frases discriminatórias atribuídas às forças de seguranças, mas diz que vai aguardar pelo resultado dos inquéritos entretanto abertos.
[Notícia atualizada às 13h23]
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