Na sua intervenção na Assembleia Política do Partido Popular Europeu, que decorre entre hoje e sexta-feira em Lisboa, Luís Montenegro fez questão de referir-se à "polémica dos últimos dias em Portugal", explicando que António Costa foi acusado pelo ex-governador do banco central de "intromissão política" e de "atentar contra a independência" do Banco de Portugal.
"O senhor primeiro-ministro limitou-se a negar essa intromissão e a remeter para processo judicial o dirimir desse diferendo. Uma coisa é o que o primeiro-ministro tem para dirimir com o ex-governador -- isso podem fazer nos tribunais --, mas há a questão política que não temos de esperar pelos tribunais", defendeu.
Em primeiro lugar, defendeu, é preciso saber "se houve ou não intromissão".
Por outro lado, e numa mensagem que disse dirigida às instituições europeias, Luís Montenegro aludiu também a outro episódio relatado no mesmo livro sobre os mandatos de Carlos Costa, sobre a venda do Banif.
"O ex-governador, com documentação, denuncia que, em 2015, perante o processo de venda de uma instituição bancária em curso, estava já a dialogar com as instituições europeias com vista à resolução dessa instituição", relatou.
O presidente do PSD acrescentou que, segundo o livro, essas diligências na Europa "fizeram com que o valor do banco tivesse caído de forma abrupta e, em vez de vendido, tivesse sido quase oferecido".
"Nas instituições europeias, é preciso que haja transparência e colaboração para todos sabermos a verdade e que não aconteça que os dirigentes governativos terem uma verdade quando falam dentro dos territórios nacionais e outra quando vão a Frankfurt e a Bruxelas", apelou.
Além do presidente do PSD, Luís Montenegro, discursaram na abertura da Assembleia Política o presidente do PPE, Manfred Weber, o líder do PP Espanhol, Alberto Núñez Feijóo, e o presidente do CDS-PP, Nuno Melo.
Na terça-feira, na apresentação do livro "O Governador", da autoria do jornalista do Observador Luís Rosa, Carlos Costa acusou o primeiro-ministro de intromissão política sobre o Banco de Portugal, instituição que liderou entre 2010 e 2020.
Carlos Costa referiu que António Costa o "contactou por chamada" para o telemóvel no dia 12 de abril de 2016 à tarde, depois de uma reunião que o antigo governador teve com a empresária angolana Isabel dos Santos, com o seu sócio Fernando Telles, enquanto acionistas do BIC, e com o diretor do departamento de supervisão do banco central Carlos Albuquerque.
"Um telefonema em que me comunicou que não se pode tratar mal a filha do presidente de um país amigo de Portugal", disse.
Segundo o livro "o Governador", esta frase de António Costa seria um pedido para que o Banco de Portugal não afastasse Isabel dos Santos da administração do BIC.
O primeiro-ministro, António Costa, tem acusado Carlos Costa, por várias vezes, de fazer afirmações "falsas e ofensivas" e já anunciou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra.
Na quarta-feira, o Presidente da República não comentou diretamente as trocas de palavras entre Carlos Costa e António Costa, mas considerou que as autoridades portuguesas atuaram em nome do "interesse nacional" quando o Governo avançou com um diploma de desblindagem dos estatutos do BPI (que levou à saída de Isabel dos Santos), depois promulgado por si.
Sobre o processo de venda do Banif, o ex-líder do PSD e comentador político Marques Mendes já aconselhou o Ministério Público a ler o livro "O Governador", considerando que se justifica a abertura de um inquérito.
Leia Também: Cavaco, Eanes, Passos, Montenegro no livro sobre mandatos de Carlos Costa