"Não consigo explicar como é possível, ontem, os bispos terem achado que podiam fazer aquela conferência de imprensa, que não tenham percebido o insulto enorme a todas as pessoas católicas deste país", disse Catarina Martins aos jornalistas, em Coimbra, à margem de suma sessão sobre habitação.
Notando que ao BE não cabe falar da Igreja, mas sim das "responsabilidades da sociedade", Catarina Martins defendeu que o país deve agir.
"Se a igreja não vê o que tem de ver, nós enquanto sociedade devemos agir", vincou a líder bloquista, pedindo apoio psicológico às vítimas de abusos sexuais, mas também apoio legal.
Por outro lado, Catarina Martins defendeu a existência de uma nova comissão independente, que possa continuar o "trabalho extraordinário" da atual e acusou a igreja portuguesa de ter encoberto os abusos e de o continuar a fazer.
"Se a igreja quer fechar os olhos, o país não pode fechar os olhos. E é preciso uma nova comissão independente e uma comissão independente que dê segurança às vítimas para fazerem as suas denúncias. E dê também segurança ao país, que ao proteger as vítimas e ao tirar consequências do que aconteceu, seja também capaz de tornar visível o encobrimento terrível que a igreja católica fez e continua a fazer", acusou Catarina Martins.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, remeteu na sexta-feira eventuais indemnizações às vítimas de abusos sexuais para os seus autores, indiciando que não haverá lugar a indemnizações por parte da instituição.
"Quanto ao apoio às vítimas, a questão das indemnizações é clara, tanto no Direito Canónico, como no Direito Civil. Se há um mal que é feito por alguém é esse alguém que é responsável, para falar de indemnização", afirmou José Ornelas.
O prelado falava, em conferência de imprensa, após a Assembleia Plenária extraordinária, que se realizou em Fátima, dedicada, exclusivamente, à análise do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgado em 13 de fevereiro.
"Falar de ajuda e apoio às vítimas - que é justo que o tenham - isso é uma prioridade para nós", declarou, garantindo que "ninguém vai deixar de ter acesso a tratamento [psicológico] por falta de meios".
Insistindo que no Direito Canónico e no Direito Civil "as penas e indemnizações são do direito pessoal", o também bispo da Diocese de Leiria-Fátima reafirmou que a Igreja Católica quer fazer justiça "e a justiça faz-se com um procedimento reto e justo".
À pergunta sobre qual o tratamento para sacerdotes abusadores, José Ornelas reconheceu que é preciso cuidar não apenas das pessoas abusadas, como dos abusadores, caso contrário "são bombas vagantes".
"Para isso, aqui no país, precisamos de ter capacidade de encontrar soluções. Este é um dos temos consensuais não só os [para] bispos, mas também [para] as congregações religiosas", declarou, referindo que este é um dos pontos concretos que está em cima da mesa e que "pode servir para outras pessoas e que é importante, particularmente, neste caso".
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