"Lamento profundamente que a Igreja católica e os seus reesposáveis não estejam a ser suficientemente diligentes em tomar medidas que possam concretizar consequências relativamente ao relatório que foi conhecido e entregue à cúpula da Igreja", afirmou Luís Montenegro, em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, à margem de uma sessão do Clube dos Pensadores.
Montenegro avisou que "os portugueses, todos, não compreendem esta passividade, independentemente de todos os cidadãos, incluindo aqueles que estão envolvidos nestes casos terem direito à sua defesa".
"Não queremos anular esse direito mas evidentemente que há posições, diligências, que podem e devem ser efetuadas a bem da própria igreja e d confiança do povo português, em especial dos fieis, na sua direção", referiu.
No domingo, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, declarou que a Igreja poderia atuar se tivesse factos para juntar aos nomes que constam da lista apresentada.
"Aquilo que nos foi entregue pela Comissão Independente foi uma lista de nomes. Se essa lista de nomes for preenchida por factos, tanto nós como as autoridades civis podemos atuar", disse Manuel Clemente.
A Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.
A comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores, alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir indemnizações às vítimas.
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