Em declarações aos jornalistas antes de uma visita ao Instituto Gulbenkian da Ciência, em Oeiras, Paulo Raimundo salientou que Portugal tem "investigadores de alto gabarito, gente que é reconhecida internacionalmente pelo seu esforço, dedicação e desempenho".
"É preciso que se dê correspondência a isso no dia-a-dia: são precisos naturalmente investimentos como este [Instituto Gulbenkian da Ciência], de particulares, mas é preciso que o Estado assuma o papel que tem de ter no sistema científico e tecnológico para corresponder às necessidades do país", defendeu.
O secretário-geral do PCP referiu que Portugal tem "muitos problemas" e está a atravessar "uma situação muito difícil e muito exigente", mas reforçou que tem também "muitas potencialidades" que devem ser valorizadas.
"O país tem recursos, tem meios, é preciso que isso seja tudo posto ao serviço do país", disse.
Paulo Raimundo considerou, contudo, que o Governo tem feito um investimento que "fica muito aquém das necessidades" e não tem garantido "a estabilidade dos investigadores, dos cientistas e do sistema científico".
Para o secretário-geral do PCP, é necessário combater a precariedade dos investigadores e assegurar que o seu conhecimento é posto ao serviço do país em áreas que vão "desde o medicamento à tecnologia, à investigação".
"Não é possível haver nenhuma estabilidade do sistema científico e dos investigadores mantendo uma parte dessa gente altamente qualificada dependente de bolsas de investigação. É preciso superar isso rapidamente", sustentou.
Questionado sobre que áreas é que deveriam ser prioritárias para o Estado investir em termos de investigação, Paulo Raimundo destacou as energias renováveis, e em particular o seu armazenamento.
"Talvez tivéssemos a solução para os problemas das baterias dos barcos da Transtejo nas mãos", ironizou.
O dirigente comunista salientou, contudo, que "todas as áreas são áreas de desenvolvimento científico, de estudo", e merecem "investimento e risco".
"Porque nós não podemos exigir que se invista numa investigação em concreto e que ela dê logo resultados. É preciso investir para que, em 100, haja uma que dê resultado, que tenha tradução prática", salientou.
Nestas declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo foi ainda questionado se os lucros de 65,6 milhões de euros registados pela TAP são mais um argumento contra a privatização da companhia aérea, tendo respondido que esse "pode ser mais um", mas está "longe de ser o único".
"Esse não é de longe o principal argumento: a TAP é uma grande empresa nacional, nós precisamos dessa empresa nacional para desenvolver o país. É a maior exportadora nacional: (...) preparam-se para pegar na maior exportadora nacional e entregar aos interesses seja lá de quem for, eventualmente os alemães", disse.
Interrogado ainda sobre as declarações do Presidente da República, que qualificou o pacote do Governo para a habitação como uma "lei cartaz", Paulo Raimundo reiterou que as medidas do executivo, assim como as do PSD, Chega e IL, "passam ao lado" dos "lucros da banca e dos fundos imobiliários", e visam dar-lhes "recursos do Estado".
"Não sei se é exatamente essa a crítica do Presidente da República. Essa é a nossa crítica, e é aqui que é preciso atacar", frisou.
A visita de hoje ao Instituto Gulbenkian da Ciência insere-se numa iniciativa do PCP intitulada "Roteiro da Ciência e Investigação", que Paulo Raimundo iniciou em janeiro.
Segundo o secretário-geral do PCP, a iniciativa visa valorizar a riqueza que o país tem em termos de conhecimento e investigação científica e assegurar que o partido conhece "a realidade no concreto" dos investigadores.
Leia Também: Residências? Moedas esgota "resposta pública" e "abre campo ao negócio"