No debate sobre política geral no parlamento, o líder da IL, Rui Rocha, desafiou o primeiro-ministro a imaginar várias dificuldades do dia-a-dia de um português, desde a inflação a greves nos transportes públicos ou no acesso à Justiça, concluindo várias vezes que "assim não dá".
"Milhões de portugueses já chegaram à conclusão de que assim não dá, e muitos votaram em si. Até o seu aliado desde o primeiro dia, o senhor Presidente da República, já concluiu que assim não dá", argumentou, numa referência a críticas de Marcelo Rebelo de Sousa às medidas do Governo para a habitação.
O primeiro-ministro reconheceu a "situação gravíssima" do país, mas sublinhou as dificuldades relacionadas com a conjuntura internacional.
"Todos temos bem consciência da situação gravíssima que estamos a enfrentar, com causas que nós dificilmente temos controlo. Porque dificilmente temos controlo sobre a disponibilidade para a paz do senhor [Vladimir] Putin, porque dificilmente controlamos os aumentos nos mercados internacionais de alguns bens base fundamentais para a produção de todos os outros e, portanto, é muito difícil gerir esta situação", argumentou.
O primeiro-ministro salientou que no ano passado "dos dois mil e 85 milhões de euros de receita não esperada em IVA", o governo redistribuiu "à população e empresas mais de cinco mil milhões de euros" para enfrentar o atual contexto económico.
Pedindo a Rui Rocha que fale "com rigor", Costa referiu que "os únicos impostos que aumentam com a inflação são os impostos sobre o consumo, em particular o IVA" e justificou uma maior receita fiscal com o aumento das contribuições para a Segurança Social, fruto do "crescimento do emprego e melhoria dos rendimentos".
Rui Rocha -- que confrontou pela primeira vez António Costa num debate parlamentar depois de ter sido eleito presidente da Iniciativa Liberal -- criticou o executivo por ter terminado com algumas parcerias público-privadas na saúde.
O liberal perguntou ao primeiro-ministro se iria reverter esta "decisão ideológica".
António Costa negou qualquer "tabu ideológico" e sustentou que o Governo fez uma "avaliação objetiva" destas parceiras, tendo renovado as que "foram positivas" e dando como exemplo a de Cascais.
"Não renovámos as outras porque os privados não quiseram renovar nos termos em que a avaliação tinha sido positiva", justificou.
O governante deixou ainda uma crítica à direita quanto à acusação da ideologia.
"Uma das coisas engraçadas da direita portuguesa é que tem a mania que só a esquerda é que tem ideologia e complexos ideológicos, como se não fosse precisamente a diferente ideologia que faz com que os senhores sejam de direita e eu seja de esquerda", argumentou.
Quanto à habitação, o líder da IL perguntou ao primeiro-ministro se admitia recuar no pacote apresentado mas Costa respondeu que as medidas do Governo estão em debate público e que o executivo tem ouvido "com a devida atenção" os contributos de todos, incluindo do Presidente da República.
O chefe do executivo acrescentou que estas medidas serão apreciadas em Conselho de Ministros no próximo dia 30, sendo que algumas terão que passar pelo parlamento.
Rui Rocha também questionou Costa sobre uma notícia do semanário Expresso de que o Governo terá constituído uma "central de comunicação", perguntando quantas pessoas estão envolvidas nesta estrutura, que funções têm e quanto ganham.
O primeiro-ministro não respondeu, e após o debate, o grupo parlamentar da IL entregou à imprensa uma pergunta dirigida a António Costa que foi submetida no parlamento pelos liberais sobre o tema.
[Notícia atualizada às 16h35]
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