Numa cerimónia que decorreu no Claustro do Palácio de São Bento, e em que também marcou presença o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa, Paulo Raimundo defendeu que a "democracia e a liberdade devem muito, e devem tudo, aos seus construtores".
"Maria Alda Nogueira, pelo seu exemplo de vida, militância, resistência antifascista, pelos combates que abraçou pela igualdade e emancipação social da mulher, é sem dúvida uma das construtoras de Abril, da democracia e da liberdade", frisou.
Salientando que Alda Nogueira "também foi uma construtora" da Constituição, Paulo Raimundo defendeu que é preciso que a lei fundamental "tenha tradução na vida de quem vive, trabalha e estuda em Portugal", em particular no que se refere à "distribuição da riqueza, salários, direitos, habitação, acesso à saúde, educação, soberania do país, paz e cooperação com os povos".
"O empobrecimento generalizado, em contraste com os 5% mais ricos que concentram 42% da riqueza criada, revela uma realidade que, na prática, colide de frente com a Constituição", sublinhou.
Depois de ter depositado, com Santos Silva, uma coroa de cravos junto ao busto de Alda Nogueira, o líder comunista advertiu que "é também responsabilidade dos órgãos de soberania cumprir e fazer cumprir a Constituição".
"Cumprir a Constituição é um passo para uma sociedade mais justa, solidária e democrática, e com mais liberdade: objetivos que Maria Alda Nogueira abraçou ao longo de toda a sua vida", disse.
Por sua vez, Santos Silva lembrou a "incansável defesa dos direitos das mulheres" na atividade política e profissional de Alda Nogueira e destacou o seu papel enquanto "resistente antifascista".
"Só há democracia em Portugal hoje porque houve resistência contra o fascismo, (...) que lutou com um grave prejuízo pessoal e familiar, mas lutou incansavelmente para que a ditadura fosse superada e para que a democracia fosse construída. O 25 de abril não seria possível sem a resistência antifascista", referiu.
Neste contexto, Santos Silva lembrou o "triste galardão" de Alda Nogueira por ter sido uma mulher com a "pena de prisão política mais dura" durante o Estado Novo.
"Passou nove anos nas prisões das masmorras do regime de Salazar, mas sobreviveu politicamente ao regime. Essa resistência antifascista nunca é de mais lembrar e nunca é de mais agradecer a Maria Alda Nogueira a forma como contribuiu para essa resistência", acrescentou Santos Silva.
O presidente do parlamento recordou ainda Alda Nogueira como uma "ilustre parlamentar" e destacou o seu papel enquanto vice-presidente do Grupo Parlamentar do PCP e presidente da comissão parlamentar da Condição Feminina.
Neste curto discurso, Santos Silva anunciou que a homenagem de hoje se enquadra num conjunto de cerimónias, aprovadas em conferência de líderes, que visam assinalar os centenários do nascimento de personalidades que tiveram uma "contribuição para a vida parlamentar democrática portuguesa".
No quadro destas cerimónias, vão ser prestadas homenagens a Francisco Salgado Zenha e Natália Correia, anunciou o presidente do parlamento.
Dirigindo-se depois a Jerónimo de Sousa, Santos Silva agradeceu-lhe por se ter deslocado ao parlamento, referindo que é "sempre um prazer vê-lo" e qualificando-o como "amigo".
Maria Alda Nogueira, que nasceu em 19 de março de 2023 e morreu em 1998, foi militante e dirigente comunista, tendo sido, depois do 25 de abril de 1974, deputada do PCP à Assembleia Constituinte.
Foi também deputada à Assembleia da República durante dez anos (1976-1986), período em que assumiu o cargo de vice-presidente do Grupo Parlamentar do PCP.
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