Um dia depois de se gritar pela "paz, pão, habitação, saúde, educação" por todo o país, o tema da Saúde continuou a ser entoado e a estar em cima da mesa, com o líder da oposição, Pedro Nuno Santos, a acusar o primeiro-ministro, Luís Montenegro, de fugir a assumir responsabilidades pela situação atual no Serviço Nacional de Saúde (SNS), alegando que agora há mais serviços de urgência encerrados do que no ano passado.
Note-se que só no sábado houve sete serviços de urgência de portas fechadas, com a maioria destes a localizarem-se em Lisboa e Vale do Tejo.
"Temos muito mais urgências encerradas do que tivemos no ano passado, o que é preocupante. Temos mais urgências encerradas, mais mulheres a ter os seus partos em ambulâncias do que nos últimos anos, o que é verdadeiramente preocupante", apontou Pedro Nuno Santos, depois de um apelo à mobilização dos cidadãos para as eleições legislativas antecipadas de 18 de maio, tendo em vista "derrotar" o executivo PSD/CDS, para que Portugal, através de "uma mudança segura", tenha "um Governo progressista, que governe para todos e não apenas para alguns".
Luís Montenegro, que no sábado esteve no funeral do Papa, no Vaticano, deu este domingo a sua resposta ao líder socialista. Defendendo que "há um ano a Saúde estava pior do que está agora", o chefe de Governo admitiu que "nem tudo estava bem" atualmente.
"Mas, felizmente, estamos a conseguir, com muito trabalho, dar melhores condições para que haja mais médicos, enfermeiros mais motivados, assistentes com condições para progredir, bons recursos humanos. Estamos a investir em tudo o que são ofertas que dão garantias de termos serviços abertos e podermos resolver um problema que vem de muitos anos", afirmou aos jornalista esta manhã, em Aveiro.
"Não estando tudo resolvido, a verdade é que hoje espera-se menos tempo para ter uma consulta, cirurgia e também há menos urgências fechadas do que havia há um ano nas mesmas circunstâncias", considerou.
E o que dizem os partidos?
Após a resposta do chefe de Executivo ao líder da oposição, os partidos falaram também sobre o tema, considerando, da Direita à Esquerda, que a situação estava pior.
O presidente do Chega, André Ventura, lembrou as urgências que estavam de portas fechadas e disse: "Não sei se Luís Montenegro vive neste país real. E era bom perguntar-lhe se ele de facto já se deslocou a um serviço de saúde para ver o que lá se está a passar, ou se já se deslocou a um desses que têm as portas fechadas e onde tem de se ligar antes de ir para lá para ser atendido. Se há coisa que não está bem, nem melhor em Portugal, é a saúde", acrescentou, desafiando o primeiro-ministro a "colocar a mão na consciência".
Já o porta-voz do Livre, Rui Tavares, afirmou que a Saúde em Portugal está pior com o Governo de Luís Montenegro e defendeu mais investimento público no SNS.
Lembrando que o Governo prometeu "que em 60 dias ia ter uma solução para o Serviço Nacional de Saúde", Tavares acrescentou: "Se a tivessem tido, mesmo que fosse só no papel, uma solução que fosse credível, neste momento a degradação estava a ser invertida."
Optando pela ironia, o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, comparou: "Há uma coisa que eu tenho de reconhecer, o fim de semana passado fecharam 19 urgências, este fim de semana só fecharam 15."
"O primeiro-ministro diz que está melhor do que há um ano, está melhor, está melhor claro. O número de utentes sem médico de família baixou ou não? Ah, não, aumentou, é verdade", ironizou, contrapondo ainda que enquanto "as urgências [hospitalares] continuam a fechar, os custos cada vez são maiores".
A Saúde, por isso, insistiu na ironia, "está melhor" para o primeiro-ministro, mas deve ser "na clinicazinha dele, na vida [dos portugueses] está pior, bem pior."
Já a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, questionou quais as facilidades que se veem em comparação com o ano passado. "O SNS está melhor? A consulta é mais fácil, que a cirurgia é mais fácil, que esperas menos tempo? Isso não tem nada a ver com os recursos que estão a ser drenados do SNS para o privado, para alimentar os lucros do privado todos os dias?", interrogou.
Ao longo da sua intervenção, em Coimbra, a líder do Bloco perguntou aos presentes se o facto de o SNS não estar melhor não terá a ver com "o grupo que o PSD pôs dentro do SNS para saquear o SNS e entregar partes ao privado, para fazerem mais e mais lucro, mais e mais negócio".
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