Da Esquerda à Direita, como reagiu o país às afirmações de Lula?
O presidente do Brasil 'puxou as orelhas' à União Europeia pelo seu papel na guerra da Ucrânia e disse estar a organizar uma coligação internacional pela paz. Da Esquerda à Direita, ouviu-se um coro de críticas.
© Reuters
Política Lula da Silva
Lula da Silva realizou uma visita de dois dias à China, onde reatou laços com o regime de Pequim, que tinham esfriado sob a governação de Jair Bolsonaro. "Acima de tudo, temos de convencer os países que fornecem armas, que encorajam a guerra, a parar", reiterou o chefe de Estado brasileiro, que recebeu críticas - e elogios - dos diferentes setores políticos pela sua posição sobre o conflito armado na Ucrânia.
Depois da visita a Pequim, Lula publicou um 'tweet' onde afirma que "começar uma guerra é uma decisão de um país" e sair "é uma decisão de dois" países, garantindo estar a "criar um grupo de países interessados na paz", propondo uma cimeira política do G20, com o apoio do presidente chinês e do Emir dos Emirados Árabes Unidos, onde esteve em visita de Estado.
Portugal está com especial atenção às palavras do chefe de Estado brasileiro, que vai discursar na Assembleia da República no próximo 25 de Abril, causando críticas da Direita, que o acusam de não denunciar as ações do Kremlin na Ucrânia, mas também entre a Esquerda, que o acusa de perpetuar a polarização do assunto.
Começar uma guerra é uma decisão de um país. Sair é uma decisão de dois. Por isso queremos criar um grupo de países para conversar sobre a paz. A paz é a melhor forma de estabelecer qualquer negociação.
— Lula (@LulaOficial) April 16, 2023
A Rússia iniciou uma invasão em grande escala da Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, espoletando um conflito armado que, segundo dados das Nações Unidas, já causou a morte a mais de 8.400 civis.
PS diz que Lula tem trabalhado na "busca pela paz"
A dar a cara pelo Partido Socialista nesta polémica esteve a deputada Jamila Madeira, que considerou que "a posição de Portugal, do Governo e do PS têm sido absolutamente claras desde o primeiro minuto", não fazendo qualquer menção sobre as implicações da mensagem conforme é dita por Lula da Silva.
À agência Lusa, a socialista assegurou: "Aquilo que nós vemos - como vimos fomentada nos últimos dias pelo Presidente [francês Emmanuel] Macron e agora também fomentada pelo Presidente Lula - é uma preocupação legítima de Portugal, dos portugueses, dos cidadãos do mundo que é a busca pela paz."
Montenegro realça "divergência profunda", mas mantém respeito
Reagindo às polémicas, em declarações aos jornalistas, o líder do Partido Social-Democrata (PSD) disse que, apesar de ter uma "divergência profunda" com Lula da Silva no que toca à sua posição perante a guerra na Ucrânia, "isso não significa que desrespeitemos o povo brasileiro que o Presidente do Brasil representa".
Montenegro pediu que não sejam esquecidas as "centenas de milhares de portugueses que vivem no Brasil e de brasileiros em Portugal". assegurando: "Relativamente à posição do Presidente Lula da Silva e da política externa do Brasil no que toca à guerra da Ucrânia há uma fronteira que nos separa completamente: nós não temos nenhuma complacência nem nenhuma condescendência com a agressão da Rússia à Ucrânia."
PSD desafia Costa a reafirmar posição
Por sua vez, Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, criticou a posição de Lula, mas também a forma como o Governo português tem lidado com a mesma. António Costa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, não podem "deixar de se demarcar, pelas vias diplomáticas adequadas mas também publicamente, da afirmação de que a União Europeia, a NATO e os Estados Unidos estão a fomentar e a estimular a guerra", afirmou Rangel, numa declaração política no Porto.
O antigo eurodeputado considerou que o primeiro-ministro "deverá afirmar a posição de Portugal a favor do direito internacional, da integridade territorial da soberania ucraniana e da paz", contra as palavras de Lula, que "fala da cumplicidade e intervenção da União Europeia e procura suavizar ou omitir a responsabilidade do regime de Putin".
Marques Mendes pede "condenar quem começou a guerra"
No seu espaço habitual de comentário político, o antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes não deixou dúvidas sobre a sua opinião perante esta polémica: "Quem quer a paz, começa por condenar quem começou a guerra."
"Quando Lula da Silva vier a Portugal, acho que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro António Costa deviam, com a elegância que estes momentos exigem, com dignidade e frontalidade, explicar três coisas muito simples a Lula", disse Marques Mendes, listando: A condenação do agressor e apoiar o agredido, que "se não fosse o apoio militar do Ocidente, EUA e UE a esta hora já não havia Ucrânia livre e independente" e a garantia de que "todos nós queremos a paz e não apenas ele".
AR "não pode receber um aliado de Putin"
Quem também não está satisfeito com as posições de Lula, nem com a sua vinda a Portugal, é, por sua vez, Rui Rocha, o líder da Iniciativa Liberal. "A AR que convidou [Volodymyr] Zelensky para discursar em 21 de Abril de 2022 não pode receber um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril", considerou o liberal, numa mensagem publicada no Twitter.
Rui Rocha considerou ainda que "o Presidente da República que atribuiu a Ordem da Liberdade a Zelensky não pode estar confortável com a presença de um aliado de Putin como Lula na AR no 25 de Abril".
Lula será "bem-vindo", garante PCP
Pela voz de Paulo Raimundo, por outro lado, o Partido Comunista (PCP) garantiu que o chefe de Estado será "muito bem-vindo" em Portugal, onde será "bem recebido". Palavras proferidas à margem de um almoço comemorativo da Revolução de Abril.
O líder comunista, para quem "é normal que haja uma sessão solene com um presidente de Estado", não abordou a polémica em torno das declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia, alegando desconhecer as diferentes manifestações convocadas para o dia em que o chefe de Estado falará no Parlamento.
Críticas a proposta de Lula são exemplo de "polarização"
À Esquerda, o antigo deputado do Bloco de Esquerda Nelson Peralta foi dos primeiros a reagir ao 'tweet' de Lula, argumentando que, enquanto o presidente do Brasil "tenta reunir um conjunto de países, com posições diversas sobre a guerra, para tentar alcançar a paz", os "guerreiros do teclado" acham que "os seus tweets fazem mais pela paz e consideram aquele esforço pela paz não algo a discordar mas algo inacreditável".
Um exemplo de "polarização", assegurou o bloquista.
Lula "está a acusar Portugal"
Duarte Marques, antigo deputado do Partido Social-Democrata, considerou, na noite de domingo, que quando Lula da Silva "acusa a União Europeia", então "está a acusar Portugal".
"Era bom esclarecer isto com o Presidente do Brasil", disse o social-democrata, acusando as palavras do presidente brasileiro sobre o papel da União Europeia no conflito entre Kyiv e Moscovo.
"Eu sei que estava na China e o negócio é importante, mas é por isso que a diplomacia é um exercício difícil", concluiu.
O presidente do Brasil disse, numa visita à China, que os Estados Unidos devem deixar de "encorajar a guerra" na Ucrânia e, por sua vez, a União Europeia deve "começar a falar de paz".
Se Lula acusa a União Europeia então está a acusar Portugal. Era bom esclarecer isto com o Presidente do Brasil. Eu sei que estava na China e o negócio é importante, mas é por isso que a diplomacia é um exercício difícil.
— Duarte Marques (@DuarteMarques) April 16, 2023
[Notícia atualizada às 10h21]
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