O momento em que Marcelo falava ao país após a crise entre Belém e São Bento era aguardado com expectativa pelos portugueses. O Presidente escolheu a "estabilidade" e disse não desejar usar os poderes que a Constituição lhe confere para interromper a governação - embora não abdique deles.
Prometeu que estará "ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia" para prevenir fatores de conflito que deteriorem as instituições e deixou duras críticas a Galamba e Costa.
Da esquerda à direita, em plena crise política, as reações não se fizeram esperar. Um único partido, o PS, ficou em silêncio.
PSD respeita conclusões de Marcelo. Culpa de instabilidade será de Costa
O secretário-geral do PSD afirmou hoje que o partido se revê na leitura feita pelo Presidente da República da situação política, respeita as conclusões do chefe de Estado e avisa que culpa de instabilidade será do Governo.
"É muito importante que os portugueses saibam que, se o calendário eleitoral vier a ser antecipado em Portugal, ou seja, se as eleições vierem a ser antecipadas e se houver instabilidade política, deve-se única e exclusivamente ao primeiro-ministro e ao Governo", acusou Hugo Soares.
O secretário-geral PSD reagia, na sede nacional, à declaração ao país do Presidente da República, que assinalou que irá retirar ilações do episódio protagonizado pelo ministro João Galamba, mas afirmou que procurará manter a estabilidade política.
IL. Marcelo "amarrou avaliação do seu mandato" à governação de Costa
Por sua vez, a Iniciativa Liberal defendeu hoje que o Presidente da República "amarrou a avaliação do seu mandato" aos próximos meses de governação do primeiro-ministro, considerando que os dois são agora corresponsáveis pelo que acontecer "nos próximos tempos".
"O primeiro-ministro amarrou o seu destino político a João Galamba, o Presidente da República amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de governação de António Costa", defendeu o presidente da IL, Rui Rocha, no parlamento, em reação à comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa.
A partir de agora, continuou, "são ambos - Presidente da República e primeiro-ministro - corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer nos próximos tempos do ponto de vista da solução governativa".
Marcelo deveria ter tido "coragem política" para dissolver AR, diz Chega
O líder parlamentar do Chega considerou que o Presidente da República deveria ter tido a "coragem política" para dissolver o parlamento e convocar eleições, defendendo que o Governo está "em farrapos" e o país "precisa de estabilidade".
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, após a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, Pedro Pinto afirmou que o Governo está "em farrapos, partido aos bocados", e "não dá credibilidade ao país".
"Portugal precisa de estabilidade, não há dúvida, mas a estabilidade tem de vir com eleições", defendeu.
Pedro Pinto disse ainda que "não é surpresa" que o Presidente da República não tenha dissolvido a Assembleia da República, mas defendeu que Marcelo Rebelo de Sousa "devia ter dado esse passo, devia ter essa coragem política".
PCP. Marcelo e Executivo devem concentrar-se na resolução dos "problemas"
Também em tom de crítica, o PCP pediu hoje ao Presidente da República e ao Governo que se concentrem na resolução dos problemas da população e considerou "lamentável toda a sucessão de casos" que tem envolvido o executivo.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, apelou a que, numa altura em que, "no plano económico e social, se avolumam problemas" e se assiste a "um conjunto de episódios lamentáveis que envolvem membros do Governo", não se desviem "as atenções daquilo que é central e crucial".
"Aquilo que os trabalhadores, os reformados, o povo reclama são respostas para os problemas com os quais estão confrontados: os salários e as pensões não chegam até ao fim do mês, há dificuldades na habitação, no acesso à saúde, para colocar comida todos os dias na mesa", disse.
BE não confia que do Executivo ou do PR saia "uma solução para o país"
O BE asseverou hoje que não confia que do Governo ou do Presidente da República saia uma "solução para o país", considerando que Marcelo Rebelo de Sousa "está enredado numa maioria absoluta arrogante e prepotente".
"O Presidente da República está enredado numa maioria absoluta arrogante, prepotente que não leva o país a sério. Hoje sabemos que não confiamos nem no Governo nem no Presidente da República para apresentarem ao país as soluções que as pessoas esperam e que as pessoas precisam", disse, em declarações aos jornalistas a deputada do BE Mariana Mortágua.
A bloquista declarou que os portugueses podem "contar sempre com a fiscalização sempre séria do BE a esta maioria absoluta e que confie nas mobilizações populares porque só elas desafiam a maioria absoluta".
Livre queria audição de partidos
Em reações no parlamento à comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa, o deputado único do Livre, Rui Tavares, afirmou que, apesar de o Presidente da República ter dado os "passos necessários para não se aprofundar uma crise política", deveria ter ouvido os partidos em Belém.
"O Presidente da República poderia, e não o fez e é pena, ter chamado os partidos a Belém, porque indo a Belém, o que o Livre diria é que há um plano para sair desta crise e que este plano passa pelo parlamento", afirmou Rui Tavares.
O deputado do Livre considerou que Marcelo Rebelo de Sousa fez "uma declaração de sensatez e responsabilidade", mas defendeu que não é "possível continuar com uma crise política em lume brando" que, considerou, "nasce e mantém-se no Governo e pelo Governo".
PAN pede "reforma profunda"
A líder do PAN, Inês Sousa Real, considerou que Marcelo deveria ter ido "mais além" de modo a garantir "que havia uma reforma no Governo".
"O que Portugal e o país precisam é que sejam feitas as reformas estruturais e haja responsabilidade, compromisso e sentido de bem comum que claramente não houve neste episódio e não tem havido nos últimos meses que têm levado, pela mão da maioria absoluta, a uma situação de elevada conturbação política", defendeu a porta-voz do PAN.
A deputada única do PAN também afirmou que o "que aconteceu por parte do Governo foi grave, não só do ponto de vista da credibilidade do poder político, das instituições, mas também da autorresponsabilização que deve existir com o que aconteceu com o ministro João Galamba".
"Infelizmente, não vimos nem António Costa, nem João Galamba, a assumir essa mesma responsabilidade. Por outro lado, o Presidente da República vem ao encontro de uma preocupação que o PAN já tinha dado nota, que é a estabilidade para os portugueses e colocarmos em todo este episódio os interesses de Portugal à frente dos interesses políticos", acrescentou.
"Manter o atual quadro político perpetua um Governo diminuído", diz CDS
O CDS-PP reagiu, esta quinta-feira, às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da decisão de António Costa de negar o pedido de demissão do ministro das Infraestruturas, João Galamba, referindo que "concorda com a análise do Senhor Presidente da Republica sobre o fracasso da governação do PS, mas discorda frontalmente das conclusões retiradas a propósito da grave crise que Portugal atravessa".
Nas palavras de Nuno Melo, presidente do partido, num comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso, "manter-se o atual quadro político perpetua um Governo diminuído e fragiliza o papel do Presidente da República".
"A decisão do primeiro-ministro, mantendo João Galamba à frente do ministério das Infraestruturas, somado a tantos outros problemas noutros ministérios, significa que para António Costa a credibilidade no Governo deixa de ser critério", denota.
[Notícia atualizada às 22h38]
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