"Bem sabemos que V/ Exa. não tem qualquer obrigação de o fazer, no entanto, a bem da verdade e até para se evitar a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à atuação do SIS, vimos sensibilizá-lo para a importância do contributo de V/ Exa. no que a esta matéria diz respeito", lê-se no texto.
Neste documento que o partido anunciou hoje ter endereçado a Marcelo Rebelo de Sousa, o Chega aponta que "seria importante saber, nomeadamente, se foi o primeiro-ministro" que o contactou e "se nesse contacto lhe descreveu, em detalhe, o cronograma dos acontecimentos da intervenção do SIS" (Serviço de Informações de Segurança).
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o presidente do Chega considerou que a "teia de mentiras" é "suficientemente grande para que o senhor Presidente da República não esclareça o que se está a passar".
"É o último pedido que fazemos ao senhor Presidente da República que, mesmo fora dos mecanismos parlamentares da comissão de inquérito, decida voluntariamente fazer uma mensagem ao parlamento, explicando os contornos desta intervenção", afirmou André Ventura, esperando uma "resposta positiva" por parte de Marcelo Rebelo de Sousa.
Este apelo ao chefe de Estado surge um dia depois de ter sido rejeitado o requerimento do Chega para o depoimento do Presidente da República, por escrito, à comissão de inquérito da TAP sobre a atuação do SIS nos acontecimentos de 26 de abril no Ministério das Infraestruturas.
Ventura lamentou o 'chumbo' e afirmou que o PS "não tem interesse em que se saiba a verdade".
Nesta declaração aos jornalistas, o líder do Chega lamentou também que o PSD tenha decidido não avançar para um inquérito parlamentar sobre a alegada interferência do primeiro-ministro na banca, afirmando que "assim fica muito difícil ter uma clara linha de oposição ao Governo e conseguir levar a verdade aos portugueses".
"Quando o PSD tiver esta atitude, nós não vamos ser nunca vistos como uma alternativa e como um bloco de oposição sério", defendeu.
André Ventura criticou ainda o PS por ter falado aos jornalistas para destacar a evolução da economia portuguesa, considerando que os socialistas parecem ter "uma obsessão" com os resultados e "ignoram as dificuldades económicas" dos portugueses.
O Presidente da República afirmou hoje que teve contactos com "uma só entidade oficial" sobre a intervenção do SIS na recuperação de um computador levado do Ministério das Infraestruturas, e considerou fácil deduzir quem foi.
O chefe de Estado reiterou que foi em 29 de abril -- dia em que o ministro das Infraestruturas, João Galamba, falou publicamente do assunto em conferência de imprensa -- que teve "o primeiro contacto oficial" sobre a intervenção do SIS após os incidentes na noite de 26 de abril no Ministério das Infraestruturas.
O Presidente da República referiu-se a esse "primeiro contacto oficial" de 29 de abril e logo depois ao contacto revelado pelo primeiro-ministro entre os dois depois da atuação do SIS, realçando que António Costa esclareceu no parlamento que nessa conversa "não tinha falado do SIS".
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "somando um mais um dá para perceber quem foi o alguém que contactou o Presidente da República no dia 29, portanto, é uma ilação fácil de estabelecer, uma vez que o senhor primeiro-ministro tomou a iniciativa de falar num contacto feito com o senhor Presidente da República".
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