À medida que as polémicas que envolvem a TAP parecem aproximar-se do fim - pelo menos, com o encerramento da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) à companhia área portuguesa -, outras questões parecem levantar voo, aterrar e seguir viagem de forma turbulenta. É o caso de uma viagem que o primeiro-ministro, António Costa, fez, no final de maio, a Budapeste, na Hungria, durante a qual assistiu a um jogo de futebol com o seu homólogo húngaro, Viktor Orbán.
No mesmo dia em que a CPI à TAP chegou ao fim, na sexta-feira, o Observador noticiou a existência desta escala, para a qual o chefe de Governo não tinha 'visto'. É que de acordo com as informações noticiadas, e entretanto confirmadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o desvio de Costa aconteceu quando este seguia a caminho da Moldova para a cimeira da Comunidade Política Europeia. A viagem realizou-se, mas Costa não a tinha declarado na 'alfândega' - ou seja, na agenda pública. A 31 de maio, o primeiro-ministro aterrou no país num Falcon 50 da Força Aérea Portuguesa e assistiu ao jogo.
"O primeiro-ministro ia para uma reunião internacional e entendeu que devia dar um abraço a José Mourinho. Ele disse-me 'é um português que está envolvido, vou-lhe dar um abraço, pode ser que dê sorte' e quase ia dando", revelou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, à margem de um evento no Seixal, Setúbal.
Já António Costa ainda não prestou qualquer comentário sobre esta questão, apesar dos pedidos de esclarecimento dos partidos.
As reações partidárias a esta aterragem... turbulenta?
O líder do Partido Comunista Português, Paulo Raimundo, reagiu, este sábado, ao caso, sublinhando que o chefe de Governo "gosta de futebol", mas que esta escala "não é normal".
"Sendo uma notícia, tem de ser esclarecida pelo primeiro-ministro, naturalmente", defendeu, considerando que "não é normal, mas todos os problemas do país fossem esses", referiu o comunista, quando questionado sobre a situação durante o desfile 'Parar a guerra – Dar uma oportunidade à paz', promovida pelo partido, em Lisboa.
Também o líder da Iniciativa Liberal, teve uma palavra a dizer. "Sei que o primeiro-ministro está mais disponível para ir a Budapeste ver jogos de futebol do que eventualmente estar perto dos portugueses", acusou.
Também o Bloco de Esquerda reagiu quando questionado sobre a situação, com a líder, Mariana Mortágua, a considerar "lamentável". "Acho lamentável que o primeiro-ministro tenha decidido parar uma viagem oficial para ir ver futebol, que tenha usado recursos de uma viagem oficial do Estado para fazer essa paragem. Acho ainda mais lamentável que tenha visto este jogo de futebol ao lado de um, enfim, líder autoritário [Viktor Orbán] de extrema-direita de um país como é o da Hungria", referiu, durante a Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa.
Também o Chega se referiu a esta escala, com o líder partidário, André Ventura, a acusar Costa de "hipocrisia política e imoralidade". "Querer estar com José Mourinho e apoiar um treinador português, um jogador português, uma equipa portuguesa é sempre louvável, mas António Costa não colocou na agenda pública que ali estaria, o que significa que, de alguma forma, um equipamento do Estado foi utilizado para finalidades que, não sendo secretas, foram mais privadas do que políticas ou públicas", afirmou, defendendo que "os equipamentos do Estado, suportados pelo erário público e pelo contribuinte, não devem ser utilizados desta forma".
Referindo que a situação pode constituir uma irregularidade, Ventura rematou: "Igualmente lamentável, mas que mostra o tipo de hipocrisia política a que estamos habituados, é o uso de todos os meios para ganhar apoio político na Europa".
Já o principal líder da oposição, Luís Montenegro, presidente do PSD, referiu que não tinha conhecimento desta notícia nem "dos contornos que envolvem". "Terei de reunir primeiro essa informação para depois fazer algum comentário", afirmou.
... E Marcelo?
No dia seguinte a ter confirmado esta informação, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a tocar no assunto, dizendo que não vê qualquer "problema político específico" na escala do primeiro-ministro no país.
"A Hungria é um estado da União Europeia (UE). [Viktor Orbán] é um primeiro-ministro da União Europeia. Podemos concordar ou discordar dele nas migrações, na política económica e social e em muita coisa, mas faz parte do grupo de países que são nossos aliados naturais na UE", explicou, em declarações à RTP1.
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