Se as notícias a envolver diretamente Luís Montenegro -- questionando o cumprimento das obrigações declarativas ou benefícios fiscais recebidos pelo presidente do PSD quanto à casa que construiu em Espinho, sobre a qual disse ter cumprido todas as regras -- foram pontuais, as repercussões políticas das operações judiciais Vórtex e Tutti Frutti continuam a fazer-se sentir no partido.
Primeiro, foi o processo relacionado com projetos imobiliários e respetivo licenciamento na Câmara de Espinho que levou à constituição como arguido do deputado Joaquim Pinto Pereira - então vice-presidente da bancada do PSD e presidente da comissão de revisão constitucional -, que liderou esta autarquia.
Tal como tinha afirmado publicamente, Pinto Moreira suspendeu o mandato quando foi constituído arguido, no final de março, mas, dois meses depois decidiu retomá-lo, num gesto em que a direção do PSD afirma ter sido apanhada de surpresa e nega qualquer concertação.
Por isso, Luís Montenegro retirou a confiança política àquele que foi um dos seus mais próximos nas últimas campanhas internas para a liderança do PSD, dizendo que o deputado deixava de expressar as posições dos sociais-democratas.
O deputado tem participado nas reuniões plenárias, na última fila, e retomou recentemente o lugar nas comissões parlamentares permanentes a que pertencia antes da suspensão - posição justificada pelo PSD por considerar que todos os deputados devem ocupar lugar nas comissões -- , forçando Montenegro a ter de reafirmar a falta de confiança política.
Já a operação Tutti Frutti, investigação judicial com sete anos, voltou ao debate político depois de uma série de reportagens da TVI/CNN, recuperando suspeitas de uma alegada troca de favores entre PS e PSD na preparação das listas para as autárquicas de 2017, de forma a garantir a manutenção de certas freguesias lisboetas.
Na sequência deste caso, Montenegro anunciou uma "sindicância interna" sobre a escolha dos candidatos autárquicos em Lisboa em 2017, conduzida pelo Conselho de Jurisdição Nacional, e propostas a levar pela direção ao Congresso de revisão estatutária de 25 de novembro.
O líder do PSD anunciou que irá propor incluir nos estatutos do partido "um código ético para dirigentes e representantes partidários", com sanções associadas, e que os militantes possam eleger o presidente do partido sem ter pago as duas últimas quotas anuais.
O caso criou também algumas 'brechas' na bancada parlamentar -- escolhida pela anterior direção de Rui Rio -, com o deputado Carlos Eduardo Reis (um dos nomes citados nas reportagens televisivas) a criticar que o tema tenha sido levado a debate com o primeiro-ministro pelo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, no que foi secundado por vários deputados.
Mais recentemente, foi também no grupo parlamentar que ficaram à vista algumas divergências, com várias declarações de voto a contestar a indicação de voto favorável da direção nas propostas de Chega e IL de criação de uma comissão de inquérito aos serviços de informações (que tinham 'chumbo' garantido pelo PS).
Também na votação da moção de censura da IL ao Governo -- em que o PSD se absteve -- se registaram declarações de voto discordantes do ex-vice-presidente do PSD André Coelho Lima e de Carlos Eduardo Reis.
Na última reunião da bancada, o líder parlamentar do PSD sentiu necessidade de "esclarecer os deputados", face a notícias que têm sido publicadas nas últimas semanas sobre a sua eventual saída antecipada, e assegurar que não pretende ir para o Parlamento Europeu e tenciona cumprir o mandato até julho do próximo ano, com Montenegro a reiterar, no semanário Expresso, "confiança máxima" em Miranda Sarmento.
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