No seu primeiro debate sobre o estado da nação como líder do BE - cargo para o qual foi eleita na convenção de maio -- Mariana Mortágua olhou para a situação atual desde um "lugar frontal de oposição", considerando que a crise na habitação "comprova a incapacidade da maioria absoluta e a sua cumplicidade com os mais fortes".
"Há uma coisa que é certa e o Governo sabe: O Mais Habitação já fracassou. A crise da habitação vai continuar e o país não vai perdoar ao Governo a maior instabilidade de todas que é trabalhar, ter um salário e não ter uma casa que possa pagar", avisou.
Sublinhando que "a situação na habitação é catastrófica e a publicidade não vai resolvê-la", a líder do BE defendeu que neste tema, como na saúde, o Governo viu os problemas "e fez promessas", que acusa o executivo de não ter cumprido.
"E hoje a pergunta que os portugueses se faz é como podem confiar no Governo? Como é possível confiar num Governo que tem este cadastro de incumprimento de promessas atrás de si", disse.
Na resposta, o primeiro-ministro, António Costa, começou por felicitar Mariana Mortágua pela sua eleição, para logo aconselhar a líder do BE à meditação.
"E não se colocar relativamente à maioria absoluta como a direita se colocou relativamente à nossa relação comum, antevendo sempre que o diabo vem aí só porque há maioria absoluta", defendeu.
Costa apelou a "alguma prudência" uma vez que Mariana Mortágua decretou o falhanço do Mais Habitação "menos de 24 horas depois da aprovação" e ainda sem promulgação.
"Lamento dizer-lhe mas está na mesma posição em que o PSD está desde 2015 à espera que o diabo venha a acontecer", comparou.
O primeiro-ministro foi ainda desafiado pela coordenadora do BE a deixar uma "palavra ao país" sobre o que se passa no Ministério da Defesa, tendo Costa respondido que "quanto à corrupção" Portugal tem um "quadro jurídico robusto", mas sobretudo a Polícia Judiciária tem sido dotada "dos recursos humanos e técnicos necessários para o efeito".
"Nós vivemos num país em que felizmente ninguém está acima da lei. Essa é a maior garantia e confiança que os portugueses podem ter. Eu não adivinho que inquéritos é que decorrem, mas há uma coisa que eu tenho a certeza é que o respeito pelo estado de direito me impõe o respeito pela independência da justiça, mas impõe também o devido respeito pela presunção de inocência", enfatizou.
Costa destacou ainda que dos "membros de Governo que saíram por algum motivo associado a uma questão de justiça, nenhuma dessas questões de justiça teve a ver com qualquer ato praticado ou omitido no exercício das funções governativas".
Mariana Mortágua tinha começado a sua intervenção por citar a capa de um jornal diário que hoje dizia que a nação está "ansiosa entre a angústia e o descontentamento".
Para a líder do BE, perante o estado da nação, há três atitudes possíveis, desde logo a "de coro de suporte que tem como principal objetivo mascarar ou colmatar as falhas da voz principal", considerando que esse tem sido o papel da maioria do PS.
"A segunda atitude é a do abutre que espera pelo fim e essa é a atitude da direita que não tem nenhuma alternativa substancial à governação do PS", disse.
A terceira atitude, de acordo com Mortágua, é "de quem não lança foguetes a cada escândalo, de quem não anseia por mais demissões no Governo, mas de quem não normaliza a dança das cadeiras sobretudo quando há suspeitas de corrupção e mais ainda quando há suspeitas de práticas reiteradas no Ministério da Defesa".
[Notícia atualizada às 17h42]
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