Foi a sua nona e última mensagem de Natal enquanto primeiro-ministro. António Costa defendeu, na segunda-feira, que os portugueses, podem "continuar a ter confiança no futuro", embora haja problemas para resolver no país, algo que com "força e determinação" se irá ultrapassar.
Nas suas palavras aos portugueses, Costa afirmou que deixa "um país melhor" ao fim de oito anos de liderança, considerando que Portugal está preparado para enfrentar os desafios com uma população mais qualificada e com "menos dívida".
"Juntos vencemos as angústias da pandemia; juntos temos garantido que a tragédia dos incêndios de 2017 não se repete; juntos temos conseguido mais e melhor emprego; diminuímos a pobreza e reduzimos as desigualdades; recuperámos a tranquilidade no dia-a-dia das famílias; juntos temos atraído mais investimento das empresas e conquistado mais exportações; repusemos direitos e equilibrámos as contas públicas; juntos ultrapassámos dificuldades e juntos construímos um país melhor", afirmou.
As reações dos partidos não se fizeram esperar, tendo o Partido Socialista (PS), na voz do vice-presidente da bancada socialista, João Torres, afirmado que Costa "entregará um país inquestionavelmente melhor do que aquele que encontrou no final de 2015".
Foi uma "mensagem de grande lucidez, mas também de grande esperança no futuro", declarou Torres, destacando que o objetivo do PS "é continuar este trabalho, de continuar a desenvolver este legado" e "a trabalhar com base na estabilidade, na previsibilidade e na segurança que os portugueses exigem dos políticos".
Por outro lado, acusou a oposição de ser "especializada na maledicência".
Ainda que a palavra que deu tom ao discurso tenha sido 'confiança', a oposição, da Esquerda à Direita, reagiu ao mesmo com... desconfiança. Afirmando que "não bate certo com a vida das pessoas" e não se coaduna com "o país real", uma vez que não terá feito qualquer referência aos problemas que as pessoas enfrentam, nomeadamente na habitação e na questão da saúde.
O vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD), Paulo Rangel, afirmou que a confiança e esperança dos portugueses no futuro e nas instituições "só pode ser retomada com uma alternativa" e afastando "os socialistas do poder".
"Com maioria absoluta, ao longo de um ano desbarataram a credibilidade do Governo e das instituições", destacou Rangel, criticando o balanço da atividade governativa feito pelo primeiro-ministro.
Para o social-democrata, faltou "uma palavra" para os profissionais de saúde, mas também para os sem-abrigo e para os que se confrontam com a crise na habitação.
Também o Bloco de Esquerda (BE), a Iniciativa Liberal (IL), o Chega, o Partido Comunista Português (PCP), o Pessoas–Animais–Natureza (PAN) fizeram a mesma crítica ao primeiro-ministro demissionário.
A eurodeputada do BE, Marisa Matias, salientou que Costa "não fez nenhuma referência aos problemas que as pessoas enfrentam em Portugal, problemas que foram agravados com a maioria absoluta, apesar de ter tido todas as condições políticas e recursos extraordinários", considerando que foram tempos de um "sobressalto permanente" na vida das pessoas, com a crise da habitação e os problemas sentidos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Igual a si próprio", foi assim que o presidente da IL, Rui Rocha, descreveu a mensagem de Natal de Costa aos portugueses.
O "essencial", como por exemplo as questões ligadas a "uma classe média absolutamente asfixiada por rendimentos baixos e impostos altos", à degradação das instituições e à degradação dos serviços públicos, que "são pontos fundamentais para os portugueses", o líder dos liberais afirma que Costa não disse "uma única palavra" e "se limitou a fazer um autoelogio, que é aquilo que tem feito sempre ao longo destes oito anos".
O presidente do Chega, André Ventura, imputa a Costa uma "profunda incapacidade de fazer um exercício de auto responsabilidade, um juízo crítico de auto responsabilização".
"António Costa falhou em toda a linha ao não conseguir dar aos portugueses a tranquilidade que o país precisava numa noite de Natal", confrontou Ventura, referindo que os socialistas vivem "numa realidade paralela completamente diferente da maioria dos portugueses".
Por sua vez, o dirigente do PCP, Jaime Toga, assumiu que "o senhor primeiro-ministro fez uma declaração que não bate certo com a vida das pessoas", não fazendo qualquer menção aos problemas do país, como o "desacerto das contas da vida das pessoas, do salário e da pensão que não chega para enfrentar o custo de vida, que aumentou significativamente nos últimos tempos".
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que a mensagem de Natal do primeiro-ministro "esquece o país real" e que a maioria absoluta "foi uma oportunidade perdida e desperdiçada".
"As palavras de António Costa esquecem o país real, porque as contas certas têm que ser contas certas em primeiro lugar com as famílias, e num país em que temos mais de 10 mil pessoas em situação de sem-abrigo e quatro milhões de pessoas a viver em situação de pobreza se não fossem os apoios sociais, existe claramente aqui um défice de um país em que António Costa não tem conseguido promover o desenvolvimento social", considerou a dirigente do PAN.
Rui Tavares, em nome do Livre, lamentou que o primeiro-ministro tivesse dedicado a sua última mensagem de Natal à confiança nos portugueses, quando não os envolveu nas grandes decisões da sua governação.
"Não houve envolvimento das populações em geral nas grandes decisões estruturantes para o futuro do país", afirmou o deputado único do Livre na Assembleia da República.
Por sua vez, o CDS – Partido Popular (CDS-PP) evocou que o primeiro-ministro tentou justificar o "caos da governação socialista que culminou na demissão do Governo e na atual crise política" da sua "inteira responsabilidade".
"Ouvimos um primeiro-ministro que pertence ao passado, que se demitiu por causa de investigações criminais graves e que liderou um dos mais incompetentes e instáveis governos da história da democracia portuguesa", afirmou o vice-presidente do partido, Paulo Núncio, através de um comunicado.
O líder do partido, Nuno Melo, aproveitou anteriormente a sua própria mensagem de Natal para atirar farpas à governação socialista - acusando o PS do "colapso" do SNS - e apelar ao voto nas próximas eleições legislativas, marcadas para 10 de março.
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