Do "bom Estaline" ao "populismo". As reações aos discursos de Ventura
André Ventura foi reeleito presidente do partido, no sábado, na VI Convenção Nacional do Chega. Mas não ficou imune às críticas por todo o espectro partidário.
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Política CHEGA
A VI Convenção Nacional do Chega terminou, no domingo, em Viana do Castelo, com a eleição dos órgãos nacionais, a votação das alterações aos estatutos e o discurso de André Ventura, que foi no sábado reeleito presidente do partido.
André Ventura propôs uma recondução de todos os membros da sua direção, não tendo feito alterações na lista que apresentou depois de ter sido reeleito o presidente do Chega no sábado.
O líder do Chega defendeu que será candidato às eleições legislativas de março de 2023 porque acredita que o "trabalho e a missão de governar Portugal" ainda não está concluído e considera que "é possível" vencer.
Reações dos partidos e do Governo aos discursos de Ventura na Convenção
Durante os três dias em que decorreu a Convenção Nacional do partido, várias foram as reações aos discursos que André Ventura trouxe aos militantes.
O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, afirmou que "metade do que o Chega diz é impossível de realizar, a outra metade é impossível de aceitar". Para Pedro Nuno, "o Chega apresenta-se perante os portugueses com a mentira, com a manipulação, com o único objetivo de seduzir aqueles que estão descontentes, aqueles que estão zangados".
O Partido Social Democrata (PSD) considerou também que o discurso do presidente do Chega "é o populismo no seu estado mais puro", defendendo que os problemas não se resolvem com "uma espécie de vendedores de banha da cobra". "O que nós assistimos aqui agora na intervenção do doutor André Ventura é o populismo no seu estado mais puro, no seu estado mais inconsequente, servido com grandes doses de demagogia", criticou.
Já anteriormente, o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, tinha afirmado que o seu partido está num campeonato com outros objetivos . "Percebo que há muitos portugueses descontentes, mas nós estamos noutro campeonato, com outros objetivos. Os nossos objetivos são os objetivos das soluções, da transformação de Portugal de dizer aos portugueses que não basta, não chega reclamação", referiu o representante dos liberais.
Pelo Livre, Rui Tavares defendeu que Ventura não gosta da igualdade perante a lei ou em qualquer outra forma e garantiu que até às próximas eleições legislativas irá fazer campanha pela liberdade e igualdade, inclusivamente nas escolas. "Aliás, não gosta da igualdade em nenhuma das suas formas. Ele já assumiu até em debate, inclusive com o nosso Presidente da República, em que assumiu que queria segregar os portugueses por etnia durante a pandemia" lembrou Rui Tavares.
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, recorreu à rede social X, para deixar críticas ao líder do Chega. "Acha que o problema das pensões das pessoas idosas se resolve eliminando os apoios às associações que apoiam as pessoas LGBTI", atirou. E continuou: "Só não surpreende, porque há muito sabemos ao que o Chega vem. Os direitos e a dignidade dos pensionistas não são indissociáveis dos demais".
André Ventura acha que o problema das pensões das pessoas idosas se resolve eliminando os apoios às associações que apoiam as pessoas LGBTI! Só não surpreende, porque há muito sabemos ao que o CH vem.
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) January 14, 2024
Os direitos e a dignidade dos pensionistas não são indissociáveis dos demais.
A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou que André Ventura dava um "bom Estaline" e que o Chega não é um partido, mas um balcão de atendimento e desconto de cheques. "E aí vão eles [às eleições legislativas]. Entusiasmados e convertidos, dispostos a enfiar a Constituição no balde do lixo, a exclamar que antigamente é que era, e a colocarem a fotografia do doutor Ventura na parede do seu gabinete, qual Estaline, como já acontece em todos as salas do Chega no Parlamento. Que bom Estaline dá o doutor Ventura", afirmou a líder bloquista.
O conselheiro de Estado e antigo deputado e dirigente do CDS-PP, António Lobo Xavier, afirmou que o "Chega é o maior aliado objetivo do Partido Socialista", no programa Princípio da Incerteza da CNN Portugal. Para Lobo Xavier, "o que o Chega quer é que a Aliança Democrática [AD] perca as eleições e faz tudo para isso".
"O facto de a AD perder as eleições dá ao Chega uma importância política e tática muito importante e o contrário fará o Chega perder essa importância", acrescentou ainda.
Pela voz do o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, que esteve na convenção a representar o Governo, João Paulo Correia alertou que as propostas do Chega traduzem "o princípio do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde" e que "as falsas mensagens e a informação manipulada são balas apontadas à democracia".
"Ficámos mais uma vez perplexos", disse, repudiando a "mensagem de ódio divisionista" e as "promessas impossíveis de concretizar", que, em sua opinião, traduzem apenas "uma demagogia para caçar votos" por parte de André Ventura.
De recordar que a VI Convenção Nacional do Chega arrancou na sexta-feira e decorreu até domingo, no Centro Cultural de Viana do Castelo.
André Ventura foi reeleito presidente do Chega no sábado, tendo sido o único à presidência da Direção Nacional e com a oposição interna sem qualquer margem neste congresso já que os delegados foram eleitos em listas afetas ao líder.
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