"O senhor presidente do Governo da Madeira, face às questões que estão em cima da mesa, até comparando com questões anteriores, deve refletir se tem ou não condições de prosseguir a sua governação", afirmou Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas à frente do Palácio da Justiça, em Lisboa, depois de ter entregado as listas da CDU para as legislativas por aquele círculo eleitoral.
Para o líder comunista, é importante que as investigações que estão em curso, com buscas na Madeira, nos Açores e no continente, "se esclareçam o mais rapidamente possível".
"É do interesse de todos que assim seja", defendeu, acrescentando que não se devem tirar "conclusões precipitadas".
O secretário-geral do PCP considerou que, apesar de este processo só ter horas, está "assente em questões que têm décadas", referindo-se em particular ao facto de "o poder político estar subordinado ao poder económico".
"Esta é que é a razão funda das grandes questões que estão aí colocadas: a promiscuidade, o compadrio, as negociatas", defendeu, considerando que essa situação se verifica em todo o país, mas "é muito evidente" na Madeira, devido ao "esquema montado da Zona Franca, com toda a negociata que isso envolve".
"Este caso - não estou a falar do ponto de vista criminal e judicial, porque o processo está em andamento - é um exemplo concreto do facto de a vida de cada um de nós, da vida da maioria do nosso povo, estar dependente não das decisões políticas, mas dos grupos económicos, a decidir, com as suas marionetas, como é que vai ser a vida de cada um", afirmou.
Questionado sobre qual é o impacto que este caso pode ter na credibilidade da classe política junto dos cidadãos, depois de António Costa se ter também demitido na sequência de suspeitas judiciais, Paulo Raimundo respondeu: "É um desastre, é a descredibilização total".
Raimundo referiu que tem sempre dito para não contarem com o PCP "para alimentar questões laterais", mas observou que "esta não é uma questão lateral, é uma questão central", voltando a insistir que mostra uma subordinação do poder político ao económico, ao contrário do que estipula a Constituição.
O líder do PCP referiu que isso se verifica em situações "que podem eventualmente ser ilegais, podem levar a crime, mas também tem expressões que, roçando a legalidade, são do ponto de vista, pelo menos moral, condenáveis".
"Vou-lhe dar um exemplo concreto: quando nós estamos todos apertados, (...) o Governo, de forma legal, no Orçamento do Estado, decide atribuir 1.600 milhões de euros em benefícios fiscais aos grupos económicos. No mínimo, há aí uma imoralidade que é preciso constatar", sublinhou.
Interrogado se acha que este tipo de casos pode fazer crescer o Chega, Paulo Raimundo respondeu que "pode fazer crescer todos aqueles que estão empenhados na procura de uma vida melhor, na procura de soluções para a sua vida".
"Não é dar votos a esses partidos que vai melhorar a sua vida. O que esses partidos querem é aproveitar todas as potencialidades e possibilidades que se abrem para encherem, para depois fazerem tudo o contrário do que estão a prometer agora", criticou.
A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar cerca de 100 buscas na Madeira, nos Açores e em várias regiões do continente, por suspeita de crimes de corrupção, participação económica em negócio, prevaricação e abuso de poder, entre outros, disse à Lusa fonte ligada ao processo.
Entretanto, o Ministério Público revelou que as investigações que levaram à realização destas buscas envolvem titulares de cargos políticos do Governo da Madeira e Câmara do Funchal por suspeita de favorecimento indevido de sociedades/grupos.
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