"A esquerda pode e deve ganhar estas eleições, a esquerda pode ser o contraforte contra as tentações autoritárias de alguns, mas também sabemos que a esquerda pode ganhar estas eleições melhor ou pior. Pode ganhar tendo aprendido alguma coisa dos erros e insuficiências do passado ou não tendo aprendido nada. Pode ganhar com taticismo ou com uma estratégia de futuro", defendeu Rui Tavares.
Esta posição do deputado único do Livre foi transmitida numa sessão pública em Almada, com os candidatos pelo círculo eleitoral de Setúbal, na Livraria Casa das Artes, na primeira iniciativa desde o arranque da campanha na qual o dirigente fez um discurso e não apenas declarações à margem.
Com os habituais alertas sobre a extrema-direita, Tavares procurou insistiu em distinguir o Livre de outras forças políticas à esquerda como o PS, BE ou PCP, numa altura em que os apelos ao voto útil se multiplicam.
O deputado fez referência a uma das propostas do programa eleitoral, a "herança social", que visa permitir a um jovem entre os 18 e 35 anos aceder a uma quantia que pode ter origem na taxação de "grandes heranças" ou através da rentabilização de certificados de aforro.
Sem nunca nomear o BE, Tavares mencionou-o indiretamente, dizendo que alguns partidos à esquerda já criticaram esta proposta: "Esta é uma ideia que aparentemente não entra bem no dogma, na cartilha, e desconfiam dela porque é nova".
"O Livre não tem medo de propor o que é novo, não tem medo de convencer as pessoas de que é preciso apostar naquilo que é novo e construir o estado social, ambiental e democrático digno do século XXI", contrapôs.
Tavares terminou o discurso manifestando confiança numa vitória da esquerda mas pedindo um reforço do Livre.
"Daqui até dia 10 é a esquerda a ganhar estas eleições, mas é um voto na esquerda que não deixa tudo na mesma, esse é um voto no Livre", apelou.
Num discurso de cerca de vinte minutos, Tavares recuou à fundação do Livre, para recordar que em 2014 o "partido da papoila" já alertava para os perigos da extrema-direita e defendia uma convergência à esquerda, considerando que "a certa altura o Livre parecia ter sempre uma antecipação em relação ao tempo político".
"Agora já não estamos a falar de algo que vai acontecer, estamos a falar de algo que já aconteceu para o bem e para o mal", afirmou, defendendo que se deve aprender com "os erros da descoordenação" que levaram ao fim da legislatura de 2019 e 2021, com a 'Geringonça', e com "a arrogância" da maioria absoluta do PS.
O dirigente concluiu que "agora, o tempo do Livre e o tempo da política estão cada vez mais sincronizados".
Nas críticas à extrema-direita, o historiador avisou que "contra os políticos sem escrúpulos não basta ter políticos com escrúpulos, é preciso uma cidadania inteira", através do "respeito pelo trabalho da imprensa" ou a "solidez das instituições".
Confiante na eleição de um deputado em Setúbal, Tavares prometeu ainda voltar a apresentar uma proposta para uma Carta dos Direitos da Cidadania Sénior que ficou na especialidade no parlamento.
Antes, o cabeça-de-lista por Setúbal, Paulo Muacho, garantiu que o partido não vai "fazer guerras de trincheiras no parlamento" e apontou que "a narrativa que estão a tentar passar de que o resultado das eleições já está decidido e vai haver uma maioria de direita não é verdade".
"Nós vamos continuar a lutar por uma maioria de esquerda e essa maioria vai contar com o Livre", disse.
Geizy Fernandes, 'número dois', lamentou que a extrema-direita utilize os estrangeiros "como arma para fomentar o ódio e a desinformação" e acusou o ex-primeiro-ministro de ter "normalizado este discurso".
[Notícia atualizada às 21h49]
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