A relação política entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro entrou esta segunda-feira num novo capítulo. Findados os silêncios depois do episódio de impasse na Assembleia da República, foi o secretário-geral do Partido Socialista quem encetou contacto, enviando uma carta ao primeiro-ministro.
Nela, Pedro Nuno Santos pediu um acordo que abranja "um conjunto de matérias sobre as quais existe um amplo consenso político e partidário". "A valorização das carreiras e dos salários dos trabalhadores da Administração Pública, em especial dos profissionais de saúde (de todos, não apenas dos médicos), das forças de segurança, dos oficiais de justiça e dos professores", pode ler-se.
Horas depois, a resposta - foi também por carta. O primeiro-ministro saudou o "exercício de responsabilidade política e compromisso" do líder do PS e comprometeu-se a agendar "oportunamente uma reunião de trabalho" sobre a valorização de carreiras e salários na Administração Pública.
Contudo, mais tarde, e numa entrevista concedida à TVI/CNN Portugal, o secretário-geral do PS apontou um "dose de arrogância" na resposta do primeiro-ministro à sua carta, defendeu que não se deve "estar à espera que seja o Partido Socialista a assegurar a estabilidade de um Governo com o qual discorda" "Seria um erro" adiar e deixar para o Orçamento do Estado para 2025 a solução para grupos profissionais da administração pública, disse ainda.
As reações
Este novo capitulo entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, foi, obviamente, alvo de comentário dos partidos políticos e até de Marcelo que preferiu não se alongar.
"Não tenho nada a responder. Ainda por cima num momento que é um momento importante, calmo, tranquilo - que é acabar a preparação do programa de Governo, e depois o debate. Mas registo, vou registando", referiu o Presidente da República, em declarações aos jornalistas, no Porto.
Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal (IL), considerou que a carta enviada pelo secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, ao Governo se trata de "taticismo" político. "Estas declarações de compromisso, de recetividade para compromisso, com prazo marcado, num período de 60 dias, ainda por cima vinda do partido que não quis resolver estas questões, é o mais puro taticismo", disse o liberal, numa conferência de imprensa no Parlamento.
Também o Chega teceu considerações sobre o tema, com o seu presidente André Ventura a afirmar que o país terá um "governo de bloco central" de PSD e PS até setembro, que os portugueses irão julgar, e reiterou que vai continuar na oposição. Ventura encarou a carta como "normal", argumentando que, "a partir da tomada de posse, ficou claro que o PSD quer que o PS seja o seu interlocutor e, portanto, é com ele que tem de falar".
Por sua vez, a deputada do BE Marisa Matias considerou curioso que o PS tenha descoberto que "afinal há condições orçamentais" para resolver problemas aos quais a maioria absoluta não respondeu, esperando que o PSD cumpra as promessas eleitorais.
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