"O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indemnizar outros países pela História que temos connosco", criticou André Ventura na reta final do discurso que proferiu na sessão solene que assinala os 50 anos do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República.
O líder do Chega disse que Marcelo Rebelo de Sousa "tem de respeitar" os portugueses "antes de tudo", porque foi "eleito pelos portugueses, não foi pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses".
"Pagar o quê? Pagar a quem? Se nós levámos mundos ao mundo inteiro. Se hoje em todo o mundo se elogia a pátria e o mundo da língua portuguesa", acrescentou.
André Ventura disse não querer "prender ninguém, nem responsabilizar" e que tem orgulho na História de Portugal.
"Eu amo a História deste país e o senhor Presidente também devia amar a História deste país", acentuou.
Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.
Da tribuna, Ventura saudou os ex-combatentes, alegando que "ficaram com o coração apertado ao ouvir o Presidente da República".
"Fazemos daqui uma enorme saudação de Abril porque é vossa também a democracia portuguesa", disse.
O presidente do Chega considerou que a Revolução dos Cravos "deu liberdade, mas ao longo do caminho foi tirando dignidade".
"Toda a liberdade que conquistámos ora a fomos perdendo ora a fomos desiludindo", acrescentou, referindo "aqueles que não conseguiram sair do salário mínimo nacional" ou os portugueses que "ao fim de anos de governação PS e PSD tiveram de emigrar".
E criticou aqueles que falam na "manhã mais bela da Europa".
"Os portugueses sabem que podemos celebrar Abril, devemos celebrar Novembro mas, acima de tudo devíamos o que ainda não celebrámos, que é dar dignidade ao povo português. Era isso que já devíamos ter feito há muito tempo", sustentou.
O presidente do Chega disse que o Governo caiu "por suspeitas de corrupção" e argumentou que "uma grande parte do país não se preocupou com as suspeitas, mas em atacar quem investigava a corrupção".
E disse referir-se ao "país que não é capaz de olhar para que os que há anos transformaram a oligarquia de maio na oligarquia de abril, em que três ou quatro famílias, sempre com os mesmos cartões ou com diferentes cores partidárias foram olhando para o lado e dizendo 'sim, sim, Abril, mas o dinheiro para este lado', 'sim, sim Abril, mas salários baixos'".
"Cinquenta anos depois de Abril sabemos que uma grande parte nunca quis uma justiça independente, quis sempre a justiça nas suas mãos ou controlada através dos seus fios", acusou, defendendo que "não é Abril que tem de se cumprir, é Portugal que tem de se cumprir".
Ventura assinalou também que no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, foram eleitos 50 deputado do Chega "ironicamente nesta Assembleia".
"Sem ajustes de contas, esta é a história que hoje aniquilou praticamente todos os que defendiam o fim da liberdade. Mas não aniquilou para se vangloriar, aniquilou para mudar este país", apontou.
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