Fernando Medina, ex-ministro das Finanças, reiterou, esta sexta-feira, críticas ao seu sucessor, Joaquim Miranda Sarmento, defendendo que o atual governante devia "pesar" as suas palavras, que também são "ouvidas lá fora" e podem afetar a "credibilidade" do país.
Em entrevista à SIC Notícias, o atual deputado socialista começou por defender o que ontem já havia dito em conferência de imprensa, numa reposta ao atual ministro das Finanças, reforçando que "as contas públicas estão sólidas", tal como apresentou "ao país na altura de passagem de pasta".
"No fundo, ministro o que é que veio criar? Veio criar uma situação de algum alarme sobre a situação financeira do país, uma confusão sobre isso, mas uma situação de alarme que, obviamente, atinge os portugueses, tem impacto sobre a economia do país, mas também é ouvida lá fora. É a imagem de Portugal, são as agências do rating que o ouvem. O ministro das Finanças tem de pesar muitíssimo bem as palavras antes de fazer declarações como aquelas que faz", atirou, acrescentando que afeta a "credibilidade do país".
Fernando Medina voltou assim a reiterar que existe "uma de duas explicações" para o sucedido: "Ignorância" e "impreparação técnica" ou "uma tentativa de guerrilha política".
Recorde-se que em causa estão declarações de Miranda Sarmento, que disse que "a situação orçamental é bastante pior do que o anterior Governo tinha anunciado" - o que levou a uma troca de acusações entre ambos.
O antigo ministro das Finanças considerou ainda que, "até agora", não viu "governação nenhuma" por parte do Executivo da Aliança Democrática (AD). "O Governo é eleito para governar, para tomar decisões, umas que implicam aumento da despesa, outras que implicam redução da despesa, umas que implicam aumento da receita, outras que implicam redução da receita, outras que não implicam rigorosamente nada disto. Isso é o que se chama governar. O que nós, aliás, até agora vimos, é que não vimos governação nenhuma. Não há governação", apontou.
"A única tentativa de governação foi uma tentativa, no fundo de engano, relativamente a uma decida do IRS", acrescentou o também ex-autarca.
"Vejo com muito apreço" manifesto por reforma na justiça
Na mesma entrevista, Fernando Medina falou sobre o manifesto de 50 personalidades sobre a justiça, documento que disse ver com "muito apreço" e "bons olhos".
"Vejo bem, vejo com muito apreço, vejo um manifesto com coragem, subscrito por pessoas de grande relevância na sociedade portuguesa, que assumiram uma posição muito clara sobre um tema que os partidos têm tido uma posição recuada em assumir", afirmou.
"Temos muito tempo de discussão sobre casos concretos e temos pouco tempo de debate sobre política de justiça. A política de justiça de tem der debatida e a política de justiça cabe à soberania discuti-la. Vi com bons olhos esse manifesto e o apelo que é feito a essa reflexão", defendeu.
Por ser deputado, Fernando Medina não quis abordar diretamente a possibilidade de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ser chamada ao Parlamento, no entanto, defendeu que a PGR "só ganha em prestar o máximo de esclarecimentos".
"Seria também altamente benéfico se conseguisse também demonstrar e afastar cabalmente que muitas vezes o silêncio é uma defesa corporativa e não a proteção de uma investigação legitima", acrescentou, criticando decisões tomadas, "por vezes, não se sabe por quem, dentro de organizações, que mandam governos abaixo, mandaram primeiros-ministros abaixo" e que, posteriormente, se vê "toda a argumentação" destruída por tribunais superiores.
"E, depois, tudo se remete ao silêncio, sem nenhum esclarecimento e até sem nenhuma audição, passados meses, do próprio primeiro-ministro envolvido [António Costa]. Acho que isto não é natural", atirou, numa referência à 'Operação Influencer'.
Europeias? "Não fui convidado"
O antigo governante foi ainda confrontado com o facto de não integrar a lista do Partido Socialista para as eleições europeias. Numa resposta direta, Medina admitiu que não foi convidado e notou que não havia feito "nenhuma manifestação particular de interesse" nesse sentido.
"Objetivamente, não fui convidado", disse. "Não tinha nenhuma manifestação particular de interesse relativamente à minha participação nas lista do parlamento Europeu", completou.
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