Sempre de mochila cinzenta às costas e sorriso no rosto -- "vamos, vamos", disse muitas vezes - Marta Temido chegou à estrada sem experiência em protagonizar uma campanha, mas com uma grande notoriedade por ter sido um dos principais rostos do combate à pandemia de covid-19, então como ministra de Saúde.
Foi precisamente esse trabalho que lhe mereceu os maiores agradecimentos e um bom acolhimento nas ruas dos muitos concelhos dos diferentes distritos por onde a caravana passou -- hoje ultrapassará os três mil quilómetros em período oficial -- e cujas paragens foram sempre aproveitadas por Marta Temido para falar com o maior número de pessoas, ignorando o relógio e o calendário apertado sempre que tinha oportunidade para fazer mais uma pergunta.
A boa receção nas ruas a Temido, que nas palavras do líder do PS, Pedro Nuno Santos, trilhou esta campanha "com humildade e empatia", fez com que esta fosse a aposta estratégica do partido nos dias na estrada para "as eleições europeias mais importantes" da vida do continente.
Tal como tinha sido prometido, Pedro Nuno Santos manteve a sua presença intensa ao longo dos dias -- até agora só faltou na segunda-feira -, estando geralmente presente em uma ou duas ações por dia para também deixar espaço a Marta Temido.
Com a candidata socialista a recusar, dia após dia, responder aos ataques, que vinham sobretudo da caravana da AD, porque o seu objetivo era falar de temas europeus e esclarecer os eleitores, foi precisamente a Pedro Nuno Santos que coube falar de política nacional, mantendo a linha de que os "portugueses estão cansados das campanhas de ataques".
Eleito há cerca de meio ano líder do PS na sucessão a António Costa, o novo secretário-geral tem nestas europeias uma prova importante já que, até agora, perdeu todos os atos eleitorais do seu mandato.
Pedro Nuno Santos fixou desde o início o objetivo de vencer as eleições, mas sem arriscar quantificar qualquer meta, numa eleição em que estará também à prova a sua decisão de renovar toda a lista ao Parlamento Europeu e não manter nenhum dos atuais eurodeputados em funções.
Afastando a ideia de que estas eleições sejam uma segunda volta das legislativas, Pedro Nuno Santos insistiu diversas vezes na importância da vitória do PS porque também vai estar a votos "uma forma de estar na política".
Além das críticas constantes a um Governo que acusa de impunidade, de não dialogar, de estar em campanha e de fazer um Orçamento do Estado em período eleitoral e sem quantificar o custo das medidas, o líder do PS aproveitou os seus discursos para avisar que nestas eleições estão em confronto duas visões distintas da sociedade, a do de PS e a AD.
A demarcação das políticas da AD foi também traçada nos discursos por Temido, que usou a questão do aborto, das taxas de juro ou mesmo da habitação para mostrar as diferenças em relação à direita, pedindo aos portugueses que não se deixem "enganar como nas legislativas".
A cabeça de lista do PS insistiu em discursos nos comícios mais programáticos e com menos 'soundbites'.
Os alertas para o crescimento da extrema-direita e para a sua "agenda de retrocesso" e as críticas à aproximação da presidente da Comissão Europeia destas forças foram uma constante em muitos dos discursos das figuras socialistas que se foram juntando à campanha, entre os quais o presidente do PS, Carlos César, o antigo cabeça de lista, Pedro Marques, o ex-secretário de Estado, Tiago Antunes ou mesmo o candidato dos Socialistas Europeus, Nicolas Schmidt.
Resta saber quando chegará António Costa, antigo primeiro-ministro e ex-líder do PS, já que, perante a curiosidade dos jornalistas Pedro Nuno Santos disse apenas que "a seu tempo" se saberia.
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