O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, considerou que "há explicações a prestar" no que toca ao caso das gémeas luso-brasileiras que receberam tratamento no Hospital Santa Maria, no âmbito do qual o antigo secretário de Estado António Lacerda Sales foi constituído arguido.
Segundo Rui Rocha, o antigo governante "informou a comissão de inquérito que está constituída no Parlamento de que não poderia vir a uma sessão agendada para o efeito" e "é preciso entender se essa não vinda no momento indicado tinha a ver já com as investigações em curso e se há nessa matéria algum tipo de falta de respeito do próprio pela comissão de inquérito".
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o líder liberal falou também das declarações da antiga ministra da Saúde, Marta Temido, que disse que não tem "nada a ver com esse processo".
"Obviamente que há explicações a serem dadas. Quem é responsável político por um ministério onde eventualmente aconteceram este tipo de procedimentos de favorecimento de determinadas situações, não pode alhear-se do que se passa no ministério de que era responsável", vaticinou Rui Rocha.
Se houve quem questionasse o 'timing' da constituição como arguido de Lacerda Sales, na segunda-feira, e as buscas no Hospital Santa Maria esta quinta-feira - como o Chega -, o presidente da Iniciativa Liberal preferiu não sugerir que existam pontes com o período eleitoral que se vive em Portugal, para as Eleições Europeias.
"Ficaria muito preocupado se houvesse diligências judiciais que são necessárias e que não fossem tomadas porque estamos num determinado período. Tenho um entendimento perfeitamente ao contrário. Quero que a justiça funcione, como muitos defenderam, no tempo da justiça. Se estas diligências estavam previstas, eram necessárias, não faço nenhuma leitura disso. A justiça atua no seu tempo, espero que sem nenhuma deliberação no sentido de condicionar o tempo político", garantiu.
A agência Lusa avança que a casa de Lacerda Sales, em Leiria, foi alvo de buscas judiciárias na segunda-feira.
No âmbito do mesmo processo, a Polícia Judiciária (PJ) está hoje a fazer buscas em duas unidades do Serviço Nacional de Saúde (uma delas o Hospital Santa Maria) e em instalações da Segurança Social.
Em causa está o tratamento hospitalar de duas crianças gémeas residentes no Brasil que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam em Portugal, em 2020, o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros.
O caso foi divulgado pela TVI, em novembro passado, e está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.
Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.
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