O antigo primeiro-ministro português António Costa alertou, esta terça-feira, que a União Europeia e Portugal precisam de "multiplicar" as suas amizades pelo mundo e os parceiros comerciais.
"Temos de compreender bem que o mundo cresceu e a Europa encolheu. Precisamos, mais do que nunca, de amigos no mundo. Temos dois grandes aliados - o Reino Unido, os Estados Unidos da América -, mas precisamos de multiplicar as nossas amizades no mundo", disse Costa, num debate sobre a nova legislatura europeia com o antigo presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy, em Lisboa.
O antigo primeiro-ministro socialista defendeu que é necessário "saber olhar para aqueles que podem ser nossos amigos no Pacífico".
"Para a Nova Zelândia, para a Austrália, para o Japão e para a Coreia. Temos de olhar para o Atlântico, para África e para a América Latina, para o Canadá... Temos de aumentar a rede das nossas amizades no mundo. Não podemos só dizer que vivemos numa competição entre os EUA e a China sem perceber que a competição não será a três", continuou, alertando que a mesma "implica vários parceiros", e é com esses que é preciso "multiplicar também as nossas relações".
Nas mesmas declarações, António Costa considerou, por outro lado, que tem de se "aumentar a capacidade relativamente às grandes tecnologias do futuro" e "ganhar essa capacidade de maior autonomia estratégica".
O antigo primeiro-ministro, recorde-se, é um forte candidato à presidência do Conselho Europeu, que atualmente está nas mãos de Charles Michel. Vários protagonistas internacionais já expressaram o seu apoio a Costa nesta 'corrida', bem como o Governo português da Aliança Democrática.
O ex-primeiro-ministro advertiu que a União Europeia não pode adiar as suas reformas institucional e orçamental antes de proceder ao alargamento e assinalou que as forças democráticas continuam em maioria nas instituições europeias.
No plano político, António Costa advogou a tese de que não se deve "dramatizar excessivamente as circunstâncias" inerentes à atual conjuntura política, apontando que, ao contrário das expectativas, as correntes populistas não cresceram substancialmente nas últimas eleições europeias e que a três famílias políticas tradicionais -- democratas-cristãos, socialistas e liberais -- continuam com ampla maioria.
O ex-primeiro-ministro identificou depois como primeiro desafio da União Europeia "garantir a paz e a segurança na Europa", sobretudo através do apoio ao esforço de guerra da Ucrânia.
"Não podemos aceitar que seja a Rússia a impor os termos da paz", acentuou, antes de se referir à questão dos países candidatos ao alargamento.
"Não é mais um alargamento. Será o mais importante e mais exigente que alguma vez fez a União Europeia. Criámos expectativas à Ucrânia, Geórgia e aos países dos Balcãs Ocidentais. Não temos legitimidade para frustrarmos essas expectativas, sobretudo a quem combate na Ucrânia", salientou.
Na parte final da sua intervenção, o anterior líder socialista foi ainda mais longe em defesa da sua tese, assinalando que os atuais Estados-membros têm de observar bem os seus próprios critérios "para acolher bem aqueles" que foram convidados a juntarem-se à União Europeia.
"Sejamos realistas, são precisas reformas institucionais e orçamentais para que o novo alargamento seja um sucesso. Esta não é uma razão para adiarmos o alargamento. É uma razão para não adiarmos o nosso trabalho de casa", contrapôs o ex-primeiro-ministro.
Depois, avançou com um exemplo da vida diária para fundamentar a sua posição: "Quando convidamos alguém para jantar em nossa casa, temos de ter mesa, temos de ter cadeiras e comida".
"Convidámos nove países para se juntarem e, por isso, temos de criar boas condições para os acolher. O sucesso não depende dó do trabalho que a Ucrânia tem de fazer, mas do trabalho que temos de fazer", reforçou.
[Notícia atualizada às 18h44]
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