Estas posições foram defendidas por António Costa, apontado como provável futuro presidente do Conselho Europeu, numa conferência promovida em Lisboa pela Abreu Advogados e pela Embaixada da Bélgica, intitulada "Europa e o futuro: a nova legislatura". Uma conferência que contou com a presença de Herman Van Rompuy, antigo presidente do Conselho Europeu (2009/2014) e primeiro-ministro belga (2008/2009).
No plano político, António Costa advogou a tese de que não se deve "dramatizar excessivamente as circunstâncias" inerentes à atual conjuntura política, apontando que, ao contrário das expectativas, as correntes populistas não cresceram substancialmente nas últimas eleições europeias e que a três famílias políticas tradicionais -- democratas-cristãos, socialistas e liberais -- continuam com ampla maioria.
"Antes das eleições europeias, afirmava-se que a extrema-direita iria ser fundamental para a formação de qualquer maioria na União Europeia, mas somando os votos do PPE, dos socialistas e dos liberais temos uma maioria sólida para assegurar a governação dos próximos cinco anos. Mas temos de estar atentos aos sinais e às causas profundas que eles representam", sustentou.
Na sua intervenção inicial, o ex-primeiro-ministro identificou como primeiro desafio da União Europeia "garantir a paz e a segurança na Europa", sobretudo através do apoio ao esforço de guerra da Ucrânia.
"Não podemos aceitar que seja a Rússia a impor os termos da paz", acentuou, antes de se referir à questão dos países candidatos ao alargamento.
"Não é mais um alargamento. Será o mais importante e mais exigente que alguma vez fez a União Europeia. Criámos expectativas à Ucrânia, Geórgia e aos países dos Balcãs Ocidentais. Não temos legitimidade para frustrarmos essas expectativas, sobretudo a quem combate na Ucrânia", salientou.
Na parte final da sua intervenção, o anterior líder socialista foi ainda mais longe em defesa da sua tese, assinalando que os atuais Estados-membros têm de observar bem os seus próprios critérios "para acolher bem aqueles" que foram convidados a juntarem-se à União Europeia.
"Sejamos realistas, são precisas reformas institucionais e orçamentais para que o novo alargamento seja um sucesso. Esta não é uma razão para adiarmos o alargamento. É uma razão para não adiarmos o nosso trabalho de casa", contrapôs o ex-primeiro-ministro.
Depois, avançou com um exemplo da vida diária para fundamentar a sua posição: "Quando convidamos alguém para jantar em nossa casa, temos de ter mesa, temos de ter cadeiras e comida".
"Convidámos nove países para se juntarem e, por isso, temos de criar boas condições para os acolher. O sucesso não depende dó do trabalho que a Ucrânia tem de fazer, mas do trabalho que temos de fazer", reforçou.
Já no período de debate, António Costa foi interrogado sobre as próximas eleições em França, respondendo esperar que a escolha a fazer pelo povo francês "continua para reforçar o papel central e insubstituível do país na construção do projeto europeu".
Questionado sobre como encara a abertura de negociação para a adesão da Ucrânia à União Europeia, o ex-líder do executivo português considerou estar perante "uma excelente notícia" essa decisão.
"Essas negociações têm de ser conduzidas com toda a lealdade", advertiu novamente António Costa.
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