Ana Gomes considerou, este domingo, que a polémica em torno da representação de um quadro na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, com a presença da DJ e produtora Barbara Butch - um ícone LGBTQ+ - ladeada por artistas 'drag' e dançarinos, revela uma "olímpica ignorância" e é uma "tentativa de polarizar a sociedade" por parte de setores conservadores.
"Eu acho que isto é uma tempestade num copo de água ou é, digamos, uma tentativa de polarizar a sociedade por parte de setores conservadores, que revelam grande ignorância", começou por dizer a antiga diplomata, no seu habitual espaço de comentário, na SIC Notícias, referindo que o quadro que inspirou a encenação é do pintor holandês Utrecht Jan Harmensz van Bijlert, intitula-se 'A Festa dos Deuses', e não a 'A Última Ceia', de Leonardo da Vinci.
"Revela uma olímpica, uma santa ignorância", atirou a comentadora.
A antiga candidata presidencial aproveitou ainda para referir que não vê aqueles que "evocam a religião e a defesa da religião" a "incomodar-se" com as "imagens sinistras" que chegam diariamente, por exemplo, da Faixa de Gaza, da Ucrânia ou do Sudão.
"Não os vimos também incomodar-se com os verdadeiros perigos de terroristas, designadamente a sabotagem que houve aos comboios de alta velocidade em França, no dia da inauguração dos Jogos Olímpicos", disse.
"Eu espero que esta santa e olímpica ignorância seja reduzida à usa insignificância e que, obviamente, isto não tolde a nossa capacidade de rir", defendeu.
Interrogada sobre o facto de a direita radical considerar que o espetáculo foi motivado pela cultura woke, Ana Gomes rematou: "Cultura woke é a cultura que estes movimentos de conservadores, de extrema-direita e de direita, de facto, representam. É uma cultura de cancelamento, de intolerância, de não aceitação da diversidade, não aceitação da nossa capacidade de rir, de alegria e de procurar aquilo que é comum na humanidade, que é isso que os Jogos Olímpicos representam".
Recorde-se que os conservadores religiosos de todo o mundo condenaram o segmento da cerimónia, com a conferência de bispos da Igreja Católica francesa a deplorar as "cenas de escárnio" que, segundo eles, ridicularizavam o cristianismo. A organização lamentou a polémica e negou a inspiração em 'A Última Ceia'. O diretor artístico da cerimónia, Thomas Jolly, afirmou que o objetivo era celebrar a diversidade e prestar homenagem à festa e à gastronomia francesa.
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