No debate com o primeiro-ministro, na Assembleia da República, Paulo Raimundo questionou o executivo sobre quanto "está disponível para transferir para os grupos que fazem da doença um negócio à custa do acesso a todos à saúde" e insistiu que que o primeiro-ministro "não perde uma oportunidade para dar razão" às acusações que dizem que o Governo "está ao serviço dos grupos económicos".
"Decide transferir seis milhões de euros para um grupo privado até ao final do ano, decide avançar com a privatização dos serviços continuados dos primários de saúde, e transfere estes seis milhões de euros para este tal grupo privado, para que este grupo privado venha ao SNS buscar os profissionais que tanta falta fazem a todos nós", sustentou o deputado comunista.
Raimundo referia-se à decisão do Governo de recorrer ao Hospital de Cascais para atribuir médico de família a 75 mil pessoas que não tinham, uma medida que representa uma despesa de seis milhões de euros até ao final do ano.
Na réplica, Montenegro lembrou que entre as cláusulas deste acordo consta que "nenhum profissional que esteja adstrito naquela área ao SNS" poderá ser contratado e defendeu que esta medida "dá resposta a 75 mil pessoas numa zona de alta densidade populacional e grande carência de recursos humanos".
"Pasme-se, vai-nos ficar até ao final do ano 24 euros mais barato (por utente) do que o custo que tínhamos se déssemos esta resposta no Serviço Nacional de Saúde", frisou o chefe do Governo.
Montenegro ressalvou ainda que não está a defender que "a multiplicação destes exemplos deve ser a regra", mas sim a destacar que o Governo "conseguiu dar uma resposta que as pessoas precisam, que é imediata, que é urgente, utilizando a capacidade instalada no setor privado".
O primeiro-ministro lembrou algumas medidas do executivo para a saúde desde a tomada de posse e garantiu que o Governo "não defende mesmo a privatização de nada no SNS", mas sim garantir um serviço de saúde universal e tendencialmente gratuito.
Montenegro disse ainda que, para dar a mesma resposta no público que o privado dá, o Governo está disposto a gastar um "bocadinho mais" do que gastou no acordo com o Hospital de Cascais, mas que "faltam médicos e enfermeiros para poder dar essa resposta".
"Infelizmente as vagas não são todas preenchidas, não é um problema de agora, é um problema que vem de há vários anos, mas nós estamos a dar atratividade às carreiras para podermos ser mais bem sucedidos nos concursos que queremos lançar", concluiu.
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