No debate quinzenal com o primeiro-ministro no parlamento, o presidente do Chega, André Ventura, tinha associado a comunidade cigana ao aumento da criminalidade violenta, dando o exemplo no triplo homicídio ocorrido na quarta-feira, na Penha de França, em Lisboa.
Na resposta, Luís Montenegro demarcou-se de Ventura apontando que a diferença é que o Governo "não olha para quem comete crimes por comunidade ou grupo étnico".
"Não queremos impunidade para ninguém", completou.
Na sua intervenção, Rui Tavares recuperou esse momento, em que "foi imputada a autoria de um crime a uma etnia inteira"
"O senhor primeiro-ministro não disse nada. Um atentado à Constituição da República Portuguesa e um atentado ao Estado de Direito porque o senhor primeiro-ministro não disse 'já julgou, já investigou, já condenou'", acusou.
O chefe do Governo, que já não tinha tempo disponível para responder, recorreu a uma interpelação à mesa do parlamento para pedir que fossem disponibilizados ao deputado Rui Tavares as transcrições em texto e vídeo do debate.
"Quando esses elementos forem disponibilizados ao deputado Rui Tavares, eu agradeço-lhe que possa fazer um pedido de desculpas face à acusação que me fez agora", disse, recebendo a garantia do presidente da Assembleia da República de que tal seria feito.
Na sequência da intervenção do Livre, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, pediu a Aguiar-Branco que condenasse a forma como o Livre se dirigiu à sua bancada, com a expressão "aqueles".
"Quero-lhe dizer que tem razão, eu deveria ter feito esse reparo e não fiz", respondeu o presidente do parlamento.
Rui Tavares pediu novamente a palavra para dizer que a bancada do Chega se dirigiu muitas vezes à sua bancada da mesma forma e deixou um reparo irónico: "Quero apenas anotar que ele não se ofendeu pelo final da frase que é: aqueles que marcharam ao lado de neonazis".
No debate, Rui Tavares acusou o Governo de "roubar ideias" ao seu partido, como o passe ferroviário nacional ou a carta dos direitos sénior e desafiou-o a "roubar outras".
"Aceita trocar o IRS jovem por uma herança social de 5 mil euros numa conta poupança de cada bebé nascido em Portugal, para que a pessoa aos 18 anos possa recuperar isso para um pequeno negócio, uma formação?", exemplificou.
Na resposta, Luís Montenegro manifestou-se disponível para analisar outras ideias do Livre -- como a da utilização de um fundo de emergência da habitação -, mas não esta em concreto.
"A única que tenho resposta direta para lhe dar é sobre a política fiscal, porque aí o Governo já fez uma opção, é a opção que nós entendemos mais correta do ponto de vista do favorecimento da situação fiscal dos jovens portugueses", assegurou, numa referência ao modelo do IRS jovem defendido pelo Governo que o PS recusa para viabilizar o próximo Orçamento do Estado.
Durante grande parte da intervenção do Livre no debate, estiveram ao telefone, simultaneamente, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, e o líder parlamentar e secretário-geral do PSD, Hugo Soares.
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