"É evidente que é melhor ter estabilidade do que instabilidade, mas os assuntos internos de cada país têm a sua dinâmica própria. Evidentemente que eles têm sempre efeitos sobre a União Europeia, no sentido em que criam novos ciclos, interrompem ciclos, podem criar alguns impasses", disse o ministro, em declarações à Lusa na Embaixada de Portugal em Paris, depois de ressalvar que Portugal não comenta a situação interna dos países.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros referiu que a França, cujo governo caiu hoje com uma moção de censura aprovada pela esquerda e extrema-direita no parlamento, e a Alemanha, que terá em fevereiro eleições antecipadas, vivem um "fenómeno" como muitos países da Europa, com "situações de alguma fragmentação parlamentar" e sem maiorias estáveis nos governos.
"Isso pode ser um efeito colateral deste tipo de acontecimentos, mas, sinceramente, vamos olhar para o normal de vida das instituições democráticas, porque é disso que se trata", defendeu Paulo Rangel.
O chefe da diplomacia portuguesa afirmou que "poderá haver algum impacto" dentro do "desenrolar que é a vida das instituições democráticas, que têm essas vicissitudes", com a instabilidade a criar dúvidas no mercados, nomeadamente nos investidores, mas recusou dar "uma importância grande" ao que é o dever normal da política de dois países.
"Quer a França quer a Alemanha têm sistemas de Governo que foram pensados para, justamente, robustecer a estabilidade, é verdade, mas isto não quer dizer que, obviamente, de quando em vez não tenham, justamente, aquilo que é o dever normal da política e que, obviamente, cria esses 'hiato' ou essas aberturas", afirmou.
Esta instabilidade vai implicar a prazo novos ciclos governativos, "na Alemanha seguramente com as eleições" e, no caso da França, "é diferente porque as eleições só podem ocorrer em julho e, portanto, com certeza que se encontrará uma solução até lá", acrescentou.
Uma moção de censura da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), apoiada pela extrema-direita União Nacional (RN), foi hoje aprovada, na primeira vez que tal acontece em França desde 1962, resultando na queda do executivo francês, liderado por Michel Barnier (centro-direita).
Já a Alemanha vai a eleições no dia 23 de fevereiro de 2025, sete meses antes do previsto, com o chanceler Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), a submeter-se em 16 de dezembro a uma moção de confiança no parlamento alemão (Bundestag) depois da demissão do ministro das Finanças, o liberal Christian Lindner (do FDP), que culminou no fim da coligação.
Leia Também: Conciliador Barnier tornou-se no primeiro-ministro mais efémero de França