Estas posições foram assumidas pelos partidos da esquerda parlamentar na sessão solene evocativa do centenário do nascimento de Mário Soares, antigo chefe de Estado e de Governo, nascido a 07 de dezembro de 1924.
Pelo BE, o deputado José Soeiro lembrou um Presidente que "defendeu «o direito à indignação» quando o povo bloqueou a ponte 25 de Abril, no fim do cavaquismo" e que "saudou a solução política encontrada em 2015" -- a denominada geringonça, que juntou a esquerda parlamentar e o PAN.
José Soeiro recordou Soares como "um dos maiores protagonistas da política portuguesa", "combatente anticolonial e antifascista, advogado de presos políticos, preso político doze vezes", deportado e exilado.
"Ao longo da sua longa vida, aliou-se com a esquerda e opôs-se à esquerda, privatizou e criticou as privatizações, liberalizou e criticou o liberalismo, precarizou o trabalho e criticou a precariedade. Foi o mais comprometido obreiro da integração de Portugal na União Europeia. Censurou ferozmente, nos últimos anos da sua vida, a "desorientação neoliberal da União Europeia". Foi contraditório e frontal nas lutas que escolheu. «Morre quem desiste», terá dito", assinalou.
"Nem pai do povo, nem mito profano. Republicano, socialista e laico, sim, como o próprio se definiu. Merece tudo menos a condescendência da despolitização e do consenso", disse.
O deputado do PCP António Filipe, que começou por saudar os familiares de Soares e o PS, recordou que a centenária história dos comunistas cruzou-se muitas vezes com a ação política do líder socialista, "em lutas comuns contra o fascismo, em momentos de confronto sobre os caminhos a seguir pela Revolução Portuguesa, em convergências e divergências que marcaram o relacionamento entre comunistas e socialistas".
"Confronto que da nossa parte foi assumido com frontalidade, marcado pela coerência das nossas posições, mas também pautado por relações de respeito mútuo", sublinhou.
Discordando das "convicções europeístas" de Soares, e a "frontal oposição" dos comunistas aos governos liderados pelo socialista, António Filipe recordou também, contudo, as eleições presidenciais de 1986, nas quais o PCP apelou ao voto em Soares contra Freitas do Amaral -- tapando a sua cara no boletim de voto se fosse preciso, apelo célebre de Álvaro Cunhal.
Pelo Livre, o deputado Paulo Muacho, lembrou Soares como "o resistente antifascista, o exilado político, o lutador pela democracia e pela integração europeia" mas também "o homem, com todos os seus defeitos e contradições".
Paulo Muacho realçou que o socialista "foi um defensor dos Estados Unidos da Europa e do federalismo europeu", tendo assinado o tratado de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1985, e que "acreditou sempre no sonho de uma Europa unida, democrática e plural".
Recordando as famosas sestas de Soares, Muacho sublinhou a importância do tempo para o descanso e da semana laboral de quatro dias defendida pelo Livre.
"Soares nunca aceitaria a passividade perante o perigo, nunca aceitaria o enxovalhar das instituições, não encolheria os ombros ao ataque a portugueses de minorias étnicas e não aceitaria que se usasse os estrangeiros como botes expiatórios", defendeu, momento aplaudido pelas bancadas à esquerda.
A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, destacou "o importante contributo que Mário Soares deu para a defesa do ambiente e de um combate sério ao aquecimento global", tendo representado Portugal na Cimeira da Terra de 1982.
Recordando que na altura tinha "apenas 12 anos", e era uma estudante "com bochechas tal e qual como tinha o presidente na altura", Sousa Real assinalou que há um "legado progressista, humanista mas também ambientalista para cumprir".
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