Na abertura das jornadas parlamentares do BE, que decorrem no distrito de Coimbra hoje e terça-feira, Mariana Mortágua disse até concordar com as declarações da líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, no programa 'Princípio da Incerteza', da TSF e CNN Portugal, quando pediu "mais serenidade" no debate em torno das declarações do líder socialista sobre a imigração.
"O problema é que, infelizmente, não foi nada disso que fez o líder do PS, Pedro Nuno Santos. Para já, não contribuiu para um debate esclarecido nem para um debate sereno sobre imigração. E não contribuiu para um debate esclarecido porque, ao rejeitar a manifestação de interesse, assumindo que a manifestação de interesse tem um efeito de chamada, Pedro Nuno Santos atirou ao lado", criticou Mariana Mortágua.
A manifestação de interesse foi um regime criado para facilitar a legalização de imigrantes, em determinadas circunstâncias, mas que deixou de vigorar em junho do ano passado.
A bloquista acusou o secretário-geral socialista de contradição e afirmou que "felizmente têm havido muitas vozes no PS que criticaram e até contrariaram as declarações" de Pedro Nuno Santos, como o antigo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, ou o ex-líder parlamentar do PS Eurico Brilhante Dias.
Para a coordenadora bloquista, a origem do problema está na "incompetência do Governo [do PS] quando criou uma AIMA [Agência para a Integração Migrações e Asilo] que foi incapaz de dar uma resposta aos pedidos de regularização da lei que tinha feito".
Mortágua considerou que "foi o Governo que não criou as condições administrativas para que a lei, que era boa e que permitia regularizar as pessoas, pudesse surtir os seus efeitos".
Mariana Mortágua voltou a rejeitar a tese de que o mecanismo de manifestação de interesse tenha tido um "efeito de chamada" de imigrantes.
"O efeito de chamada é o dos hotéis que precisam de pessoas para trabalhar. É o dos restaurantes, o dos terrenos agrícolas, o do setor das pescas, o do setor dos cuidados, dos lares que precisam de pessoas para trabalhar. Esse é o efeito de chamada. É a economia que chama. E o Estado tem que responder com formas de regularização das pessoas", argumentou.
A líder dos bloquistas considerou ainda que, "mesmo do ponto de vista estatístico", o debate não está a ser esclarecido, afirmando que "em 2023, 70% dos pedidos de residência em Portugal são dos vistos CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]" e não da manifestação de interesse, que representou "11% dos pedidos".
Na entrevista que deu ao semanário Expresso, Pedro Nuno Santos afirmou ainda que quem procura Portugal para viver "tem de perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada".
"A pergunta que eu tenho para fazer ao secretário-geral do PS é de que valores fala", questionou a bloquista, que sublinhou a necessidade de políticas públicas que permitam uma maior integração destes cidadãos no país.
"É aqui que nós temos uma discussão serena sobre imigração e sobre como é que a imigração é integrada na economia e na sociedade portuguesa, não é assumindo os argumentos preconceituosos da extrema-direita sobre este debate", criticou, distanciando "os valores da esquerda" sobre o tema dos da extrema-direita.
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