"Uma coisa garanto: um entendimento com o BE não tem aceitação de princípios de discurso da direita sobre imigração, nem políticas que reflitam esses princípios", declarou Mariana Mortágua, em conferência de imprensa, num hotel de Lisboa, no fim de uma reunião da Mesa Nacional do BE.
A coordenadora do BE acrescentou que o seu partido também "exclui qualquer alteração urbanística - que, no caso de Lisboa, não se inclui, não se aplica -, mas que pudesse aproveitar-se de uma alteração à lei dos solos", à qual se opõe "determinantemente".
Mariana Mortágua tinha sido questionada se as divergências sobre imigração poderiam dificultar eventuais entendimentos nas autárquicas deste ano, nomeadamente para a Câmara Municipal de Lisboa, depois de ter criticado as propostas e o discurso do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.
Concretamente sobre Lisboa, referiu que "é público que houve intenções declaradas por parte do PS de haver um entendimento com outros partidos à esquerda" e que "essa possibilidade de entendimento está dependente do programa" e das soluções encontradas para "questões como por exemplo a integração de pessoas migrantes".
"É com base nestes problemas e é com base na necessidade de criar uma alternativa que pode ou não haver um entendimento, mas ele vai depender das soluções encontradas para estes problemas", reforçou.
Comentando em termos genéricos as propostas apresentadas pelo secretário-geral do PS de alteração aos procedimentos de regulamentação da imigração, a coordenadora do BE acusou-o de aceitar "a narrativa" e "os termos em que a direita quer discutir a imigração" e considerou que "é um erro".
Segundo Mariana Mortágua, as propostas que Pedro Nuno Santos apresentou traduzem "um recuo do PS face às suas políticas do passado, face às medidas e às ideias que defendeu no passado", que "é baseado num equívoco", de que "é preciso é um modelo legal para restringir a imigração".
"Nós sabemos, por experiência própria, que esses modelos legais não restringem a imigração, o que fazem é aumentar o número de imigrantes indocumentados, e quanto mais imigrantes indocumentados há, maiores os problemas de acolhimento, de integração de imigrantes no país", argumentou.
A coordenadora do BE manifestou-se preocupada que se vá "aceitando pouco a pouco os princípios da extrema-direita ou da direita" e "transformando aquilo que era inaceitável em aceitável" e afirmou que "essa é uma preocupação que se sobrepõe a qualquer cálculo eleitoral, a qualquer entendimento específico".
Nesta conferência de imprensa, Mariana Mortágua criticou o Governo por "nomear para presidir a uma comissão que vai rever as normas da Segurança Social e o futuro da Segurança Social Jorge Bravo, uma figura que é conhecida por ser consultor de bancos e de seguradoras, que tem um interesse direto na privatização da Segurança Social com a criação de fundos de pensões privados".
"É o mesmo Jorge Bravo que foi autor de uma auditoria do Tribunal de Contas à Sustentabilidade da Segurança Social em que propositadamente adicionou as contas da Segurança Social às contas da Caixa Geral de Aposentações para produzir a ideia de que a Segurança Social teria um défice no curto prazo", apontou.
Por outro lado, a coordenadora do BE condenou a "postura do Governo português face às exigências da NATO" de mais investimento em defesa, considerando que o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, se intrometeu nas "escolhas soberanas" do país e que houve "submissão do Governo ao assumir que esse objetivo tem de ser cumprido".
[Notícia atualizada às 21h55]
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