A moção 'S', intitulada 'Novo rumo', e que vai a debate na XIV Convenção Nacional, nos dias 31 de maio de 1 de junho, é subscrita por cerca de quarenta bloquistas que incluem vários elementos que integraram a lista de Mariana Mortágua à Mesa Nacional na última convenção do partido, como é o caso dos dirigentes Adelino Fortunato (que é o primeiro promotor da moção e também integra a Comissão Política), Alexandra Vieira (antiga deputada), Helena Figueiredo e José Manuel Boavida.
Este grupo de bloquistas - no qual se inclui ainda o ex-deputado à Assembleia da República Heitor de Sousa - já tinha apresentado, em outubro do ano passado, um documento alternativo ao da direção na Conferência Nacional, no Porto, que se debruçou sobre a estratégia do partido para as eleições autárquicas.
Algumas das críticas divulgadas à data voltam a ser sublinhadas na moção 'S', como a de que o BE tem assumido "um modelo de «movimento de movimentos» ou de «federação de Organizações Não Governamentais», focado em direitos humanos e sociais, indistinto de organizações socialdemocratas como o PS e o Livre".
"A diluição ideológica arrisca fazer perder o capital de luta do BE associado à sua história, assim como a sua utilidade social", alertam estes bloquistas, que também alegam falta de democracia interna como "principal fator de fragilidade" do partido.
A direção de Mariana Mortágua - que voltou a ser a primeira promotora da moção 'A' e vai recandidatar-se ao cargo de coordenadora do partido - é acusada de não ter "sinal de autocrítica" e ter entrado "numa lamentação sobre tempos difíceis", insistindo "na indefinição política".
"A participação no movimento sindical tem estado muito aquém do necessário, ficando o campo aberto para estratégias sectárias do PCP. A estratégia para o movimento laboral e sindical está ausente dos textos e da prática da maioria da direção do BE", é defendido no texto.
Estes bloquistas defendem que o partido "sofreu derrotas em todas as recentes eleições", "aproxima-se da irrelevância política" e vive "um momento crítico", alertando que o seu futuro está dependente das decisões que tomar nesta convenção.
"Um partido revolucionário tem de ser intransigentemente democrático, para fora e por dentro. O BE tem alguns mecanismos internos de funcionamento democrático, mas transformou-se num partido de funcionários, sujeitos à dependência económica e política de duas fações dominantes, que evitam que a discussão seja alargada ao conjunto dos aderentes", criticam.
No que toca a eleições autárquicas, estes bloquistas defendem que a nova lei dos solos, que o parlamento ainda vai alterar, deverá ser "uma pedra de toque para eventuais acordos pré-eleitorais".
Já em relação às presidenciais, estes militantes avisam que o atual contexto político e social é "bastante desfavorável para uma candidatura própria à Presidência da República", correndo-se o risco de ser uma "tarefa muito desgastante e comprometer o objetivo de acumular forças". Propõem que o tema seja discutido em Conferência Nacional.
O BE está a atravessar um período conturbado após a polémica sobre despedimentos no partido entre 2022 e 2024, que incluem duas mulheres que tinham sido mães recentemente e já motivou a abertura de um inquérito pelo Ministério Público.
Na última convenção, realizada em maio de 2023, Mortágua foi escolhida pelo partido como coordenadora nacional, sucedendo a Catarina Martins que ocupou este cargo durante uma década e é atualmente eurodeputada.
Nessa reunião magna, a lista de Mariana Mortágua conquistou 67 dos 80 lugares na Mesa Nacional e os restantes foram atribuídos à lista 'E', encabeçada por Pedro Soares - corrente interna que já anunciou que não vai avançar com uma candidatura na próxima convenção.
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