A eurodeputada Catarina Martins afirmou que uma comissão de inquérito "não é o caminho" para o primeiro-ministro, Luís Montenegro, dar "explicações" sobre a empresa imobiliária que tem levantado questões entre os partidos da oposição. No entanto, defende que Montenegro deveria "fazer uma conferência de imprensa, responder aos jornalistas", tal como fez quando foi da sua casa de Espinho.
Catarina Martins esteve, como já é habitual, no programa Linhas Vermelhas da SIC Notícias, na segunda-feira, e um dos temas abordados foi a imobiliária da família do primeiro-ministro, assunto que foi discutido no Parlamento e que viu a moção de censura apresentada pelo Chega chumbada.
"O primeiro-ministro não devia ter explicado nada no debate com o Chega na moção de censura, ou seja, eu acho que isso é um erro. A moção de censura foi uma manobra desesperada do Chega, envolvido em enormes escândalos e em casos de polícia. Portanto, não percebo como é que o primeiro-ministro decide, naquele debate, prestar qualquer tipo de esclarecimentos, não o devia ter feito", salientou a eurodeputada.
Foi ainda mais longe, dizendo que o Chega "não é, seguramente, o interlocutor para explicar seja o que for".
"Uma bancada que está cheia de pessoas com crimes a pedir explicações, o primeiro-ministro dá explicações. Eu acho um absurdo", notou Catarina Martins.
A ex-líder do Bloco de Esquerda recuou ainda um tempo atrás referindo-se ao momento em que Luís Montenegro fez uma conferência de imprensa para explicar a situação da casa de Espinho onde apresentou "uma série de dossiês e documentos para mostrar todas as despesas".
"Agora, decidiu não responder, não responder durante muito tempo. Depois, vai e responde no sítio errado porque, ali, ao Chega é que não se deve responder de maneira nenhuma, não tem sentido e não dá todas as explicações", acrescentou.
Catarina Martins defende que "deve ser tudo esclarecido" e que "é natural que sejam pedidas explicações e que as explicações sejam dadas", assumindo que acredita que Luís Montenegro "pode fazer melhor do que já fez até agora".
"Todos temos a noção de que, em Portugal, há uma enorme pressão de especulação imobiliária, que está a retirar às pessoas o direito à habitação. É por isto que é um tema tão quente. Nesse ponto de vista, há uma lei que foi a alteração à lei dos solos que está , neste momento , a ser discutida na Assembleia da República", disse.
E salientou: "Lei, aliás, com que o Chega nunca teve nenhum problema. Era o que mais faltava deixarmos agora, o Chega ficar numa fotografia de quem está a combater a especulação imobiliária [..] pelo contrário, o Chega é financiado pelos grandes negócios imobiliários, o Chega faz negócios imobiliários [...]", atirou.
Catarina Martins frisou ainda que esta "lei está em debate da especialidade" e que "era importante que as alterações fossem travadas, aquelas que o Governo já fez que agora estão a ser reapreciadas".
"Independentemente, da relação ou não, que provavelmente até nem existirá, entre a empresa de Luís Montenegro e esta lei, se este problema causa um grande sobressalto popular [...] porque as pessoas sentem que não têm acesso à habitação, que não conseguem pagar a casa e esse é o maior problema do nosso país e, portanto, as alterações legais sobre o imobiliário, sobre o direito à habitação, acho que devem ser centrais neste momento no nosso país", afirmou.
Questionada sobre uma possível comissão de inquérito, a eurodeputada salientou não ser "esse o caminho".
"O primeiro-ministro pode dar explicações sem precisar de uma comissão de inquérito [...] pode fazer uma conferência de imprensa, pode responder aos jornalistas, pode mostrar os documentos. O primeiro-ministro já o fez quando foi a casa de Espinho. Portanto, não estou sequer a sugerir que ao primeiro-ministro que faça uma diferente do que já fez [...] e com isso acabar com as dúvidas", sublinhou.
Catarina Martins destacou ainda que "há mais membros do Governo que têm explicações para dar".
"Quem pode continuar no Governo, continua. Quem não deve continuar, deve sair", frisou.
Eleições na Alemanha
Catarina Martins comentou também as eleições legislativas na Alemanha que aconteceram no domingo e de onde saiu vencedor Friedrich Merz, líder do partido da União Democrata-Cristã (CDU).
"As eleições dão vários sinais, alguns deles preocupantes, outros de alguma esperança. Eu destacaria três coisas", começou por dizer.
"Na Alemanha, pela primeira vez, e antes destas eleições, quebrou-se o cordão sanitário contra a extrema-direita, ou seja, a direita achou que podia controlar o crescimento da extrema-direita se votasse propostas [da extrema-direita] sobre a imigração. Eu lembro que o AfD é uma extrema direita abertamente pró-nazi [...] a quebra deste cordão sanitário não ajudou a enfraquecer a extrema-direita [...] quebrar o cordão sanitário só deu um péssimo sinal para o futuro e, portanto, foi um tremendo erro", afirmou.
A ex-líder do Bloco de Esquerda referiu ainda que "a Direita ganha estas eleições, mas vai ser preciso negociar governo".
"O Centro-Esquerda teve um resultado bastante mau. Os Verdes descem muito ligeiramente. Os liberais desaparecem do Parlamento. Em princípio, teremos agora um período complicado de negociações para perceber como é que se vai fazer o governo", notou Catarina Martins.
E acrescentou: "O resultado da Esquerda alemã [...] o Die Linke é um partido que muita gente achou que ia acabar [...] a Esquerda fez uma campanha muito, muito corajosa [...] e o Die Linke, praticamente, duplicou a sua votação e é, neste momento, o grande polo de oposição que há na Alemanha".
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