O PSD Madeira, que tinha perdido a maioria absoluta em 2019, acabou praticamente por recuperá-la no domingo, três eleições depois. Os resultados da noite eleitoral não deixaram margem para dúvidas e apontam para uma clara vitória do partido de Miguel Albuquerque, ficando apenas a 300 votos de eleger o 24.º deputado e garantir a maioria. Já o PS passou a terceira força política na Região Autónoma, sendo ultrapassado pelo JPP.
O líder do PSD Madeira afirmou, no discurso de vitória, que ainda não tinha falado com nenhum partido para ocupar o lugar do deputado que falta para a maioria absoluta, mas deixou a porta aberta ao CDS, referindo o partido como "parceiro privilegiado".
Do lado do CDS, que já governou com o PSD - à semelhança do que acontece atualmente no continente com o Governo da Aliança Democrática (AD) -, há total disponibilidade para uma conversa nos "próximos dias".
"Vamo-nos sentar à mesa e aquilo que poremos em cima da mesa são as nossas propostas e as nossas soluções para resolver os problemas das pessoas, das famílias e das empresas", revelou o único deputado eleito pelo CDS, José Manuel Rodrigues.
Para já, Miguel Albuquerque vê a vitória como um resultado que não deixa margem para "qualquer equívoco" em relação àquilo que os madeirenses querem, destacando que o partido alcançou a maior votação desde 2015 nas legislativas regionais deste domingo.
"Quero deixar um agradecimento muito sentido quanto à confiança depositada no meu partido e na minha liderança como o nosso povo uma vez mais demonstrou, não há qualquer equívoco", salientou o líder do PSD/Madeira e presidente do Governo Regional.
"Foi a maior votação de sempre desde que assumi a liderança", referiu.
(Quase) maioria absoluta é garantia de estabilidade?
A possibilidade de maioria absoluta do PSD Madeira era apontada pelas últimas sondagens divulgadas antes das eleições regionais.
Após serem conhecidos os resultados, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou acreditar que os eleitores madeirenses "escolheram a solução da estabilidade".
"Ao fim de tantas eleições disseram: vamos dar a este somatório, a estes partidos, que lá estavam, a chance para, com maioria absoluta, governarem", defendeu Marcelo.
Já Paulo Cafôfo, após conhecer os resultados, assumiu-se como responsável pela derrota do PS, que desceu para terceira força política da região, mas não tocou na questão da estabilidade, deixando apenas claro que não se demitirá do cargo de líder dos socialistas na Madeira.
"Assumo este resultado e assumo a derrota. Esta derrota é minha responsabilidade. Fiz o melhor que pude, fiz o melhor que sabia", esclareceu. "Entreguei-me a estas eleições com toda a garra, toda a paixão, todo o crer. O resultado não foi o que eu desejaria, não o que eu esperaria, não o que o Partido Socialista esperaria."
JPP destronou PS e foi segundo grande vencedor da noite. Prometem "fiscalizar" o PSD
O Juntos Pelo Povo (JPP) é o único partido português que surgiu na Região Autónoma da Madeira, começando com um pequeno movimento, criado por dois irmãos, que foi conquistando o poder aos poucos, ao longo dos últimos anos. Nestas eleições conseguiram o melhor resultado de sempre, ultrapassando o PS e passando a ser o principal partido da oposição com 11 deputados, de um total dos 47 que compõem o hemiciclo.
Com o novo poder conquistado, o secretário-geral do JPP, Élvio Sousa, prometeu "fiscalizar o que o PSD vai fazer". "Não vão ficar sem vigias, vamos levantar torres defensivas e de vigia em todos os municípios", avisou Élvio Sousa.
Como reagiram Montenegro e Pedro Nuno Santos?
Em reação aos resultados na Madeira, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, mostrou-se satisfeito com "mais uma extraordinária vitória do PSD para a assembleia regional".
"O povo madeirense provou, uma vez mais, a sua paciência apara resolver nas urnas aquilo que os políticos não foram capazes de resolver na assembleia legislativa", atirou Montenegro, falando do desenvolvimento e "estabilidade" da região.
Para o social-democrata, estes resultados na Madeira traduzem-se numa "derrota em toda a linha de uma oposição concertada e destrutiva do PS e do Chega", que vai para lá das fronteiras do arquipélago.
"Efetivamente, depois de juntos - PS e o Chega - terem derrubado o governo dos Açores - terem depois perdido nas urnas -, terem derrubado o governo da Madeira - e terem hoje perdido nas urnas -, terem derrubado o Governo da República - e os portugueses escolherão em maio aquilo que pretendem para o futuro. A verdade é que têm sido os cidadãos a conferir condições de estabilidade quando estes dois partidos, concertados e juntos, põem os seus interesses à frente dos interesses das pessoas", defendeu o líder social-democrata.
Opinião bem diferente tem o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos. Reconheceu a "derrota do PS Madeira", que "não há como ignorar", mas afastou-se dos resultados das eleições regionais, lembrando que os socialistas se mantêm como o "partido que mais eleições ganhou no país".
"Não posso tirar nenhuma ilação. Levamos mesmo a autonomia do PS Madeira a sério", acrescentou Pedro Nuno.
Recorde-se que o PSD governa a região desde as primeiras eleições regionais, em 1976. No domingo, o partido venceu as eleições legislativas regionais antecipadas da Madeira, falhando por um deputado a maioria absoluta, de acordo com os dados oficiais.
Segundo informação disponibilizada pela Secretaria-Geral do MAI, os sociais-democratas obtiveram 43,43% dos votos (62.085 votos) e 23 lugares na Assembleia Legislativa Regional, constituída por um total de 47 deputados.
O JPP alcançou 21,05% dos votos (30.094 votos) e 11 mandatos no parlamento regional, enquanto o PS teve 15,64% (22.355) e oito lugares na Assembleia Legislativa Regional, seguindo-se o Chega, que elegeu três deputados, a IL e o CDS-PP, que obtiveram um cada.
Em relação à atual composição, a assembleia passou de sete para seis forças políticas, uma vez que o PAN não conseguiu reeleger a sua deputada única.
Ao círculo eleitoral único do arquipélago, com 47 assentos parlamentares, concorrem 14 listas: CDU (PCP/PEV), PSD, Livre, JPP, Nova Direita, PAN, Força Madeira (PTP/MPT/RIR), PS, IL, PPM, BE, Chega, ADN e CDS-PP.
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