Estas indicações constam de dois documentos, aos quais a Lusa teve acesso, que simulam eventuais diálogos com possíveis eleitores durante a campanha.
Se o cidadão referir que o BE despediu trabalhadoras que tinham sido mães recentemente, o militante bloquista é aconselhado a responder que o partido "cumpriu a lei e ofereceu uma solução melhor do que aquela que a lei definia para esta situação".
"Em 2022, perdemos muitos deputados e passamos a receber menos dinheiro do Estado, tivemos de reduzir a nossa estrutura profissional. Foi um momento difícil e houve erros na forma de contactar as pessoas, tal como já assumimos. Hoje faríamos isso de outra forma. Mas nada disso invalida 25 anos com o Bloco a defender os direitos das mulheres, a conciliação entre vida e trabalho, prolongamento das licenças de parentalidade pagas a 100%", lê-se no texto.
Um outro documento, intitulado "guião porta a porta", dá várias indicações ao militante do BE para que sejam atingidos vários objetivos, sendo o primeiro "avaliar a proximidade" da pessoa "ao processo eleitoral".
"Olá, bom dia/tarde! Estamos aqui a apoiar o Bloco de Esquerda, a falar com as pessoas do bairro sobre as eleições de 18 de maio porque o Bloco quer ouvi-las e partilhar a sua visão para Portugal. Já sabia que as eleições são no dia 18 de maio?", é a primeira abordagem que surge no guião, que tenta convencer o eleitor a ir votar caso não tenha a certeza se o vai fazer porque "cada voto faz a diferença".
O segundo objetivo é perceber "as preocupações" da pessoa em causa, questionando se são "cuidados de saúde, habitação, inflação, direitos dos trabalhadores, ou condições de trabalho por turnos", por exemplo - sendo estas algumas das principais bandeiras eleitorais do BE.
Se a pessoa ainda estiver indecisa e dizer que "os políticos são todos iguais e nada muda", o partido aconselha os militantes a responder que compreendem "mas o BE é diferente".
Caso a pessoa diga em quem vota, o BE também preparou algumas respostas, com o objetivo de "disputar a escolha de indecisos ou abrir contacto com simpatizantes".
Se o eleitor apoiar o PSD, Chega ou a IL, o militante é aconselhado a agradecer "a franqueza" o eleitor, acrescentando que "o mais importante é envolver-se na democracia e fazer escolhas informadas" e terminando a conversa "com gentileza".
Quanto a partidos com os quais o BE pode disputar eleitorado à esquerda, se o eleitor estiver a pensar votar no PS, o militante é aconselhado a lembrar que "no tempo da geringonça" algumas coisas melhoraram e o governo durou quatro anos, mas depois, o PS "apanhou-se com a maioria absoluta e foi o que se viu".
Responsabilizando os socialistas pela crise na habitação, o militante bloquista deve argumentar que "para haver estabilidade tem de haver uma esquerda forte que melhore a vida das pessoas".
Se o eleitor estiver a pensar votar no Livre, os militantes são aconselhados a salientar que os dois partidos têm muitas causas em comum" mas realçam que "para pressionar o PS, é necessária firmeza ou nada acontecerá diferente do costume" e afastam-se do partido de Rui Tavares em questões relacionados com armamento.
"O Livre defende o aumento dos gastos com armas. Devemos usar o nosso dinheiro para resolver problemas reais como habitação e saúde, em vez de mais gasto militar", lê-se no texto.
Quanto ao PCP, os militantes do BE devem argumentar que os comunistas têm "posições conservadoras sobre alguns assuntos importantes" como a eutanásia, não deixando de salientar que irá "convergir com aquele partido "sempre que possível".
Numa reunião da Mesa Nacional de 10 de março, este órgão máximo entre convenções decidiu mandatar a Comissão Política para definir "um guia de novas práticas e recursos de campanha, a apresentar aos aderentes e simpatizantes", argumentando que "a sucessão de legislaturas curtas e a multiplicação de eleições tornam muito exigente o debate e a difusão de alternativas políticas" e "a simples repetição de fórmulas usadas em campanhas passadas não serviria esse esforço".
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