"Relativamente a este Governo temos dito que acordou, na nossa perspetiva, um pouco tarde para a matéria, porque é quando o Governo sente que parece que há um facto consumado, no que respeita à construção daquele armazém para resíduos nucleares, que o Governo desperta para uma ação, até lá a passividade caracterizou a sua ação", disse.
A deputada, que falava no decorrer de uma audição pública sobre a central nuclear de Almaraz, no auditório da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Portalegre, no âmbito das jornadas parlamentares do partido, concordou, no entanto, com a posição do Governo que apresentou recentemente em Bruxelas uma queixa sobre este processo.
"É importante que o Governo entre mais em peso na pressão sobre Espanha e que entre através do ministro dos Negócios Estrangeiros, de uma forma mais direta e mais presente, não apenas pontual, que entre através do primeiro-ministro e também que, o envolvimento dos chefes de Estado, neste caso do senhor Presidente da República, seria também importante", acrescentou.
No decorrer da audição pública, o presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, Ceia da Silva, defendeu também o encerramento da central nuclear de Almaraz, mostrando-se "preocupado" com a "falta de conhecimento" sobre esta matéria por parte das populações.
Do ponto de vista turístico, Ceia da Silva explicou que os visitantes daquela região alentejana procuram " identidade, valorização ambiental e segurança", sublinhando que o turista hoje em dia "é cada vez mais culto, exigente e informado".
"Há dois fatores decisivos em relação ao turismo: o clima e a segurança. Havendo aqui um risco, mesmo que seja só um risco, desde que ele possa ser detetado como tal, afeta claramente as dinâmicas turísticas e a procura turística sobre o território", alertou.
Na mesma sessão, a presidente da Câmara Municipal de Portalegre, Adelaide Teixeira, anunciou que na última reunião do executivo foi deliberado "por unanimidade" alertar o Governo para "sensibilizar" as autoridades espanholas para o desmantelamento da central nuclear de Almaraz.
O PEV desenvolveu entre segunda-feira e hoje as jornadas parlamentares nos distritos de Castelo Branco e Portalegre, dedicadas, entre outros temas, aos riscos decorrentes da central nuclear de Almaraz.
A construção de um armazém para os resíduos nucleares da central de Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira, já deu origem a uma queixa de Portugal a Bruxelas.
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, justificou esta decisão com o facto de Espanha não ter realizado um estudo de impacto ambiental transfronteiriço, como estipula a legislação comunitária, realçando os pedidos de esclarecimento enviados ao ministério espanhol, tendo a última carta sobre a central de Almaraz sido enviada a 23 de janeiro.
O responsável pela pasta dos Negócios Estrangeiros espanhol já assegurou que o armazém terá todas as condições de segurança para Portugal e o primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que existe boa vontade da parte do Governo de Espanha para a resolução da situação relativa a Almaraz.