"Na União europeia existem 121 centrais nucleares, das quais 66 já ultrapassaram o seu período de vida e 91 estão paradas. Destas [91] só três foram desmanteladas", afirmou o eurodeputado em Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco.
Carlos Zorrinho, que participa em Termas de Monfortinho, na conferência "Almaraz: Uma bomba-relógio aqui ao lado", promovida pela Câmara de Idanha-a-Nova, disse que dos 350 mil milhões de euros para desmantelar as 91 centrais nucleares no espaço europeu, apenas existem 120 mil milhões para esse efeito.
"Grande parte das centrais que pararam foi porque as pessoas se mobilizaram. Portanto, é também com a mobilização das populações que temos que abrir espaço para outro modelo energético", sustentou.
O eurodeputado falou também sobre o acordo entre os governos de Portugal e de Espanha sobre Almaraz, mediado pela Comissão Europeia, para realçar que este "é sobre a construção do aterro de resíduos nucleares e nada mais".
Também presente nesta conferência, a eurodeputada socialista Ana Gomes criticou o facto de o tema Almaraz ter sido retirado da cimeira ibérica, que decorreu no final de maio em Vila Real, e adiantou que não é possível os políticos fazerem um qualquer acordo sobre a central nuclear espanhola dentro dos gabinetes.
"Acho bem que o Governo utilize o quadro europeu aparentemente, para pedir documentação, mas não acho bem que o assunto seja retirado da agenda politica, designadamente que não tenha figurado na cimeira luso-espanhola recentemente realizada", afirmou.
A eurodeputada foi taxativa em defender o encerramento da central nuclear espanhola e não deixar prolongar a vida de Almaraz.
"É uma central com tecnologia desfasada que devia pura e simplesmente ser rapidamente encerrada e não prolongar-se-lhe a vida, inclusivamente com o tal armazém de resíduos nucleares que será uma justificação, exatamente, para lhe prolongar a vida", sustentou.
Adiantou ainda que no caso de um acidente nuclear, as populações da raia são as que poderão ser mais afetadas, mas disse que a existir um acidente, ele vai afetar todo o país e vai ter implicações em Lisboa.
"Acho bem que o Governo português aproveite o contexto europeu e as diretivas europeias para procurar uma solução negociada para este problema [Almaraz]. Agora a negociação tem que defender os interesses das populações de Portugal e de Espanha", frisou.
Para a eurodeputada socialista este não é apenas um problema do Governo, por isso considera importante fazer este tipo de reuniões para que os cidadãos se informem do que está em causa e para que haja mobilização de sinergias na sociedade civil dos dois países ibéricos para travar o prolongamento de vida da central nuclear.
Já o deputado e presidente da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação Pedro Soares explicou que aquilo que houve entre o acordo discutido entre a Comissão Europeia e os governos português e espanhol foi um acordo sobre o aterro de resíduos nucleares.
"O Governo [português] reconheceu que a construção cumpre as regras internacionais de segurança. É a isto que se resume o acordo entre Portugal e Espanha sobre o prolongamento da central além de 2020", frisou.
Pedro Soares sublinhou ainda que o Governo português aceitou fazer uma avaliação sobre a construção do aterro de resíduos nucleares com base nos dados das autoridades espanholas e não tiveram qualquer papel na recolha e tratamento desses dados.
Já Massimo Garribba, responsável pela energia nuclear da Comissão Europeia e que liderou a negociação do acordo entre os dois países ibéricos, confirmou que no acordo aquilo que está em causa é precisamente a construção do aterro de resíduos nucleares e não o encerramento da central de Almaraz.