"No PSD há uma grande cobardia dos opositores de Passos"

O politólogo Adelino Maltez vê "amargura" em Pedro Passos Coelho, mas reconhece que é muito difícil encontrar um líder alternativo para o PSD.

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Melissa Lopes
02/10/2017 02:51 ‧ 02/10/2017 por Melissa Lopes

Política

Análise

Às primeiras projeções que davam conta de uma derrota do PSD, sobretudo em Lisboa, várias foram as vozes a assumir que o líder do PSD deveria demitir-se. E vai fazê-lo? O próprio garantiu (pela enésima vez) que não se demite devido a resultados autárquicos. Vai, no entanto, pensar se se recandidata a um novo mandato no partido. 

No que toca a Passos Coelho, sobre quem pesou mais os resultados eleitorais da noite, o politólogo Adelino Maltez constata que "há uma amargura para os amantes do 'Passismo'".

"E isto permite que os adversários de Passos surjam", muito embora considere ser "muito difícil aparecer" uma verdadeira alternativa à liderança do PSD.

Quanto a Manuela Ferreira Leite, que assumiu na noite deste domingo que Passos não tem condições para continuar na liderança do PSD, Maltez defende que era melhor a antiga ministra das Finanças "reconhecer também que falhou porque foi para a rua apoiar Teresa Leal Coelho".

"No PSD há uma grande cobardia dos opositores de Passos Coelho. Só pedem a cabeça dele depois disto. E isso estou convencido que leva a máquina do partido a não alinhar muito com estas soluções [que apelam à demissão de Passos]", observa em declarações ao Notícias ao Minuto o especialista em política e professor universitário, salientando que esta não é apenas uma amargura de Passos.

"A amargura é maior, não apenas pelo Passos Coelho, mas é sobretudo pelo risco de, pela primeira vez,  não conseguir aproveitar-se da erosão do partido que está no poder". As alternativas dentro do PSD, analisa Maltez, "estão a atuar no dia seguinte a uma derrota" e "deviam ter tido a lisura de o fazer, prevendo que isto ia acontecer". Daquilo que o politólogo observa "houve uma sucessão de erros de candidatos em grandes centros urbanos" que deram muitos tiros nos pés". "E, portanto, não vão ser os opinadores, os comentadores televisivos que vão encontrar um líder alternativo a Passos Coelho". De resto, no discurso da noite, Pedro Passos Coelho voltou a dizer que não se demite por causa de resultados de eleições autárquicas, admitindo, no entanto, que vai "ponderar" se se recandidata a um novo mandato no PSD

Para lá das leituras nacionais que os líderes partidários possam fazer, Maltez nota que - "infelizmente" -, em 40 e tal anos, "só temos dois partidos com dimensão nacional". "É um tormento ter de observar isto", desabafa. "Um sistema político, controlado por estes dois grandes partidos, que têm cerca de 80% dos lugares eleitos, é um sistema conservador. Os outros partidos não conseguem fazer mobilizações entusiasmantes, não há paixão neste voto".

A "histeria" e o exagero de Lisboa e Porto 

Por outro lado, o politólogo vê alguma "histeria" e exegero mediático nas reações aos resultados eleitorais. "Quando vejo a Cristas cantar de galo e depois olho para os resultados [globais] e há só cinco autarquias do CDS, a maior parte delas pequenas, não vou dizer que ganhou o CDS e perdeu o PSD. Mas o mediático deste processo é este. Quando vejo o Bloco de Esquerda satisfeito porque ganhou um vereador, e com tempo de antena como se isso fosse uma grande vitória...". "Esta gente é histérica", atira, deixando claro que "os resultados reais não são esses". Para o politólogo, "há aqui uma operação mediática e alguns a ser levados ao colo". No essencial, aponta, "o país conserva as grandes linhas".

Em termos de rupturas essenciais Maltez destaca o Porto, onde Rui Moreira conseguiu criar uma candidatura independente de acentuada dimensão, a vitória de Isaltino em Oeiras e a vitória de Basílio Horta em Sintra. Sobre este último, o politólogo frisa que é o único fundador de um grande partido português que ainda está vivo. "É o único caso de resistência desde 74, é o único dos velhos fundadores da democracia, os outros são todos uns putos que entraram depois", sublinha. 

"Em Cascais, ganhou o PSD. Qual é a lógica desta linha de comboio?", interroga-se, concluindo que, apesar de os resultados variarem, "somando tudo, mantém-se o mesmo" - "domínio total do PS e do PSD e a demonstração de que a democracia portuguesa continua dependente de duas grandes máquinas".

Outro ponto de análise nestas eleições autárquicas é o facto de estas já terem entrado na rotina do país. "Levamos isto como se fosse mais um facto do nosso dia a dia", refere, frisando o lado positivo disso até para continuar a luta pela redução da abstenção. O lado negativo, na ótica de Maltez, é o mediatismo das duas grandes cidades: Lisboa e Porto. 

"O que me aborrece é este exagero de Lisboa e Porto nestas análises, tem sido uma das causas de insucesso do país, que começa pelo discurso político que é completamente centrado nos teatros que os partidos fazem nas sedes nacionais", aponta, deitando a culpa "em todos nós que nos enredamos nisto"

Em relação à redução da abstenção, Maltez considera-a 'poucochinha', uma vez que continua a ser elevada. E isso explica-se pelo facto de estas não serem eleições tão entusiasmantes quanto as Legislativas. Em todo o caso, "demonstra-se que não há uma democracia, há 308 democracias e é a melhor coisa deste dia e esse apetece celebrar".

 

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