Durante a manifestação de solidariedade para com o povo catalão no Porto, o bloquista disse à Lusa ser "chocante o que o Governo e o Rei espanhol têm feito relativamente à Catalunha", acrescentando que, independentemente das posições, "há uma coisa que é fundamental, que é o direito dos povos decidirem dos seus destinos e das pessoas exercerem democracia e liberdade, sem serem vítimas de repressão"
"Rajoy tem sido irresponsável, incendiário e covarde. Irresponsável porque está a tornar este problema cada vez mais grave, dando passos que tornam mais difícil o diálogo e mais irreversível o processo que está em curso. Incendiário porque as decisões que tem tomado só têm contribuído para o extremar de posições e para que toda a situação se polarize. E covarde porque não dá a cara politicamente pelo que está a acontecer, mas está a utilizar o aparelho repressivo do Estado para impedir que um povo se pronuncie. Isso não traz nenhuma hipótese de solução", afirmou.
Relativamente ao papel do Governo português, o deputado pediu ao Partido Socialista (PS) que tome uma posição definitiva, depois de na quarta-feira, o BE ter apresentado um voto de condenação à violência na região catalã, que foi chumbado pelo PSD, CDS e por uma parte da bancada do PS, tendo sido aceite pelas restantes bancadas parlamentares.
"O Estado português não tem que ter uma opinião sobre se a Catalunha deve ser independente. Deve é condenar uma operação de repressão massiva contra um povo que se quer pronunciar. Portugal teve uma posição contundente e solidária quando Timor-Leste teve um referendo, e o povo português saiu às ruas, não só para defender o direito de fazerem o referendo, como também o respeito que era preciso ter pelo resultado desse referendo", relembrou.
José Soeiro requereu também uma posição firme e "bom senso" por parte das instituições dos países europeus, naquele que é "um processo como nunca" houve na Europa, em que "um Estado está a mandar o exército ocupar uma parte do país".
"O bom senso é dizer ao Estado espanhol que isto não pode acontecer, este não é o caminho. O único caminho possível é o dialogo político. Entender que se resolve uma questão política ordenando que os tribunais prendam as pessoas que se querem pronunciar, enviando a polícia e o exército e tomando de assalto as instituições catalãs, esse não é o caminho. É suficientemente grave para merecer mais que uma preocupação e uma posição concreta do Estado português", insistiu, referindo o voto de preocupação aprovado na quarta-feira no parlamento.
Soeiro reafirmou a sua convicção de que "o problema não vai ficar encerrado até se encontrar uma decisão política".
"E certamente que essa decisão política não será contra a maioria de um povo. Este processo repressivo pode aguentar algumas semanas ou alguns meses, mas há uma marca que é ainda mais forte e que atinge todo o povo catalão, independentemente da posição que tenha", finalizou.
O impasse permanece total entre o executivo de Mariano Rajoy e as autoridades catalãs independentistas, devido ao referendo sobre a independência da Catalunha realizado no domingo.
Nesta consulta, declarada ilegal e suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol, participaram 2,2 milhões de pessoas, num censo de 5,3 milhões (42%), com 90% dos votos a favor da independência, segundo referiu o Governo regional da Catalunha.