PCP afirma estar em curso no país um "Bloco Central informal" PSD/PS

O secretário-geral do PCP afirmou hoje que está em curso no país um "Bloco Central informal" entre PSD e PS, convergência em que os sociais-democratas já preparam uma revisão constitucional a pretexto de uma reforma na justiça.

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Lusa
17/03/2018 18:34 ‧ 17/03/2018 por Lusa

Política

Jerónimo de Sousa

Esta análise foi feita por Jerónimo de Sousa no encerramento de uma conferência nacional promovida pelo PCP sobre educação, intitulada "A escola pública" e que decorreu na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

De acordo com o líder comunista, a convergência do PS com os partidos à sua direita "ficou bem patente no bloco de oposição que formou contra as propostas do PCP de alteração às normas gravosas da legislação laboral".

"A opção do PS de se unir na votação ao PSD e CDS no chumbo das iniciativas do PCP mostra que há muito a fazer para remover a velha política que indistintamente governos de uns e de outros levaram à prática no país com graves consequências sociais. É significativo o posicionamento do PS e a sua convergência com PSD e CDS e não pode deixar de ser reconhecido como um momento marcante da nova fase da vida política nacional", advertiu Jerónimo de Sousa.

Na perspetiva do secretário-geral do PCP, na atual fase política, é também "significativo o processo de reaproximação [PS/PSD] e de assumida articulação e procura de consensos envolvendo o conjunto dos partidos responsáveis pela governação que conduziu o país à grave situação de fragilidade e atraso económico e social em que se encontra".

"Uma convergência que está em curso em novos domínios, dos fundos comunitários à descentralização, dando expressão a uma espécie de Bloco Central informal, entre PS e PSD, com a nomeação de interlocutores das partes e com o PSD a ousar já propor a revisão da própria Constituição da República a reboque de uma pretensa reforma da Justiça", frisou Jerónimo de Sousa.

Neste contexto, Jerónimo de Sousa avançou com mais um exemplo de entendimento político entre socialistas e sociais-democratas, referindo que esta semana PS, PSD e CDS se "concertaram na solução que engendraram e aprovaram de desregulação do transporte de passageiros em automóveis ligeiros para servir as multinacionais, como a Uber".

"Uma solução que se traduz num ataque concertado ao sector nacional do táxi. Anda mal o PS se procura a solução para os problemas nacionais com o PSD e CDS, em vez de romper com as políticas do passado de exploração e empobrecimento do povo e de afundamento do país", avisou.

Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa também se referiu de forma crítica aos recentes congressos do PSD e do CDS-PP, considerando que "tentaram fazer esquecer, com novas operações de maquilhagem e tomando novas roupagens - com muita evidência e exuberância desmedida no congresso do CDS -, a desastrosa política que promoveram de cortes nos salários, pensões, prestações sociais, brutal aumento da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho".

"Congressos lavandaria, particularmente o do CDS, agora assumido como 'partido de todos e para todos'. Salvo seja camaradas", desabafou o líder comunista, provocando então risos na plateia.

Neste ponto do seu discurso, Jerónimo de Sousa atacou particularmente o CDS-PP, dizendo que esta força política, no passado recente, já se "tentou fazer passar por partido dos reformados, partido dos contribuintes e partido dos agricultores, umas vezes mais popular e outras vezes mais democrata-cristão".

"Mas este CDS foi executante do corte das reformas, teve intervenção direta com a dra. Assunção Cristas no estado em que foi deixada a floresta e arruinou muitos pequenos e médios agricultores. Teve também o dedo na Secretaria de Estado [dos Assuntos Fiscais] que fez a enorme carga fiscal que todos nós sentimos", disse.

O secretário-geral comunista dirigiu-se depois à presidente do CDS, aconselhando-a, novamente, a ler a fábula de La Fontaine "da rã que queria ser boi" - uma alusão irónica de Jerónimo de Sousa ao objetivo do CDS-PP de se tornar a prazo o maior partido português.

"Não pode passar ao esquecimento aquilo que o CDS e PSD fizeram ao povo português", acrescentou.

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