Quarenta anos após o lançamento da primeira rede móvel, a infraestrutura de quinta geração (5G) será comercializada em 2020, sendo mais forte e potente do que as anteriores, mas já está envolta em polémica pelas suspeitas de espionagem chinesa.
O que é o 5G e como surge?
O 5G é a quinta geração de rede móvel e vem suceder ao 1G (criado em 1980), ao 2G (de 1990), ao 3G (de 2000) e ao 4G (de 2010).
Com o avanço da tecnologia, as infraestruturas de rede móvel têm também vindo a ser substituídas, já que as novas são sempre mais eficazes e abrangentes do que as anteriores.
O 1G era apenas destinado a chamadas de voz e tinha uma velocidade de 2,4 kilobytes (kbps) por segundo. O 2G passou a incluir também mensagens de texto e já era de 64 kbps por segundo.
Com o 3G, no início do milénio, passou-se para uma velocidade 384 kbps por segundo, incluindo então, além das chamadas de voz e das mensagens escritas, a internet através de dados móveis.
Foi com o 4G que se chegou à banda larga móvel, numa velocidade entre 100 megabytes (kbps) a um gigabyte (Gbps) por segundo.
O que se espera é que, com o 5G, se chegue a uma velocidade de, pelo menos, 10 Gbps por segundo, permitindo a conexão de dados ilimitados em qualquer lado, a qualquer altura e em qualquer formato.
Neste novo padrão da banda larga sem fios haverá, então, mais velocidade, maior cobertura e mais recursos.
A nova infraestrutura, ainda em desenvolvimento, será 100 vezes mais rápida do que a anterior, podendo chegar inclusive a 20 Gbps. Isto torna, por exemplo, as tarefas mais velozes, com o 'download' de um filme com um gigabyte a poder demorar menos de 10 segundos.
Para que serve o 5G?
Além de ser aplicado às comunicações móveis, o 5G será ainda crucial para áreas do quotidiano, mas também para potenciar outros avanços tecnológicos, nomeadamente nos carros autónomos.
Isto porque a potência desta rede de quinta geração vai além da rapidez nos 'uploads' e 'downloads' e assenta, sobretudo, na redução da latência, ou seja, do tempo de resposta de um aparelho a partir do momento em que recebe a ordem até a executar.
Quanto menor for a latência, mais rápida é a reação de um aparelho acionado à distância.
Isto aplica-se aos eletrodomésticos e a outros aparelhos comuns, incluindo os que estão ligados à internet, que passarão a ser mais eficientes, podendo trazer benefícios nas áreas do entretenimento, agricultura, indústria, saúde, energia e na realidade virtual.
Acresce que a rede 5G vai permitir que mais aparelhos estejam conectados ao mesmo tempo, multiplicando por 100 o número de dispositivos possíveis.
A questão da latência também permitirá melhorar a tecnologia associada aos carros autónomos, tornando estes veículos mais rápidos na resposta -- até perante eventualidades -- e no processamento da informação.
Em termos ambientais, também há uma redução na ordem dos 90% do consumo de energia.
Quais os desafios e os entraves?
Apesar dos benefícios, a rede 5G traz vários desafios, nomeadamente para as empresas de telecomunicações ou para as fabricantes de telemóveis.
A primeira questão passa, sobretudo, pela uniformização, já que se estabeleceram requisitos para o 5G aplicáveis em todo o mundo, que preveem que esta rede seja flexível o suficiente para permitir o surgimento de novos serviços ou modelos de negócios.
Isto significa que o 5G deverá funcionar em várias faixas eletromagnéticas, como as de 3.4-3.8 Giga-hertz (GHz), de 700 mega-hertz (MHz) ou ainda de 26 GHz, respetivamente, de média, baixa e alta.
Deverá, também, funcionar de forma igual em áreas povoadas ou rurais e em aparelhos mais avançados (como os que estão a ser fabricados tendo por base esta quinta geração móvel) ou tradicionais.
Acresce a necessidade de o 5G permitir maior eficiência energética.
O que está a ser feito na UE?
Um total de 138 projetos-piloto para o 5G estão em curso na União Europeia (UE), abrangendo 23 Estados-membros, mas a um ano da meta estipulada por Bruxelas só quase 7% do espetro foi atribuído.
Assumido como um objetivo da Comissão Europeia há seis anos -- altura na qual foi lançado um plano de ação para os Estados-membros --, o 5G ainda não é uma realidade na UE, mas Bruxelas pretende que seja até 2020, data na qual espera ter esta rede disponibilizada, de forma comercial, em pelo menos uma cidade por país.
Para 2025, estipula-se já uma cobertura abrangente da rede 5G, que vem suceder ao 4G, sendo mais rápida e mais potente do que a anterior e permitindo a ligação de mais dispositivos em simultâneo.
Para monitorizar o que está a ser feito em cada país, o executivo comunitário criou o Observatório Europeu para o 5G, organismo segundo o qual, em janeiro deste ano, existiam 138 projetos-piloto em curso na UE, número que está de acordo com os objetivos de Bruxelas.
Ao todo, estas iniciativas abrangem 23 Estados-membros, sendo eles a Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Portugal, Roménia, Suécia e o Reino Unido.
Não foram registados, até final do ano passado, projetos na República Checa, Chipre, Luxemburgo, Eslováquia e Eslovénia, precisa o relatório de acompanhamento mais recente, datado de dezembro.
Também àquela data, o documento aponta 30 cidades da UE como "habilitadas para a rede 5G", sendo, no caso de Portugal, Aveiro.
De acordo com o relatório, os testes para 5G na União "estão a ser feitos, em maior número, em Espanha, França, Alemanha e Itália", concentrando estes países 40% dos projetos totais.
Em média, estão em curso seis projetos em cada um dos 23 países da UE que estão a testar a tecnologia, aos quais se juntam outros como Rússia, São Marinho, Noruega, Turquia e Suíça, que o Observatório Europeu para o 5G agrega no relatório.
Portugal fica abaixo desta média, com um total de cinco testes a decorrer no final do ano passado.
Grande parte dos testes em curso na UE refere-se à área dos media e do entretenimento, dos transportes e do automóvel.
No que toca ao espetro, os números ficam mais aquém, já que, em dezembro de 2018, apenas 6,7% tinha sido atribuído às operadoras.
A faixa eletromagnética mais atribuída era a de 3.4-3.8 Giga-hertz (GHz), representando 49% do total, seguindo-se a faixa dos 700 mega-hertz (MHz) e a dos 26 GHz.
Contudo, àquela data, não existia "uso comercial do espetro para 5G", realça o documento, lembrando, ainda assim, que na Finlândia foram iniciados processos para tal pela operadora Elisa.
Em curso (a decorrer ou já terminadas) estão auscultações ao mercado na UE, já que a implementação do 5G depende de parcerias público-privadas, um programa iniciado por Bruxelas em 2013 e para o qual foram alocados 700 milhões de euros numa fase inicial para fomentar a investigação.
A estes acrescem 200 milhões de euros que Bruxelas vai agora destinar a estudos em áreas como a saúde, a energia, entre outras.
Estima-se que o investimento das empresas na tecnologia 5G seja superior, ascendendo a quase três mil milhões de euros.
A implementação do 5G é, contudo, uma decisão nacional, já que cabe a cada Estado-membro decidir como o faz.
O relatório adianta que, em Portugal, é esperado um leilão para atribuição da faixa dos 700 MHz no último trimestre de 2019.
Para permitir esta tecnologia, foi aprovado, no ano passado, um novo código europeu das comunicações eletrónicas.
Como está o desenvolvimento a nível mundial?
A rede 5G está a ser desenvolvida em vários países do mundo, estando os asiáticos e os Estados Unidos mais posicionados para vencer a 'corrida' tecnológica.
Apesar de nesta corrida estar também a UE, os avanços são maiores fora da União, já que "os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e a China são os principais países em termos de desenvolvimento" desta tecnologia, admite o Observatório Europeu para o 5G no seu relatório de acompanhamento mais recente, datado de final do ano passado.
Além de monitorizar o que está a ser feito na UE, este observatório criado pela Comissão Europeia acompanha a aposta no resto do mundo, indicando no relatório, a que a agência Lusa teve acesso, que "os Estados Unidos são um país muito avançado no 5G", sendo esperado em breve que as operadoras AT&T ou Verizon o comercializem, após testes no ano passado.
Também a China está "a experimentar o 5G", prevendo o seu lançamento comercial em 2020 através da China Unicom e da China Telecom, segundo o documento.
Antes, para o segundo semestre deste ano, é apontada a comercialização do 5G na Coreia do Sul, país que chegou a testar esta tecnologia numa zona limitada dos jogos olímpicos de inverno, em fevereiro do ano passado, na região de PyeongChang.
No próximo ano, esta oferta comercial deverá chegar ao Japão, com "os operadores japoneses a pretenderem lançar o 5G a tempo de acolher os jogos olímpicos e paraolímpicos de verão em agosto de 2020", precisa o relatório.
"Além destes países e da UE, outros estão a planear desenvolvimentos no 5G, como a Índia, a Austrália, o Canadá, a África do Sul e os países do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos, o Qatar e a Arábia Saudita", aponta o mesmo documento do Observatório Europeu.
No caso da Índia, o lançamento comercial só é estimado para 2022.
Entre os restantes, "o Qatar e os Emirados Árabes Unido reivindicam ter sido os primeiros a lançar o 5G". Porém, "sem qualquer dispositivo 5G disponível até ao momento [nestes dois países], parece ter sido mais uma 'luz verde' para a infraestrutura do que um lançamento comercial completo", observa o relatório.
Quais as últimas polémicas?
Além das operadoras, são também várias as fabricantes que estão a apostar em equipamentos 5G, entre as quais a Ericsson, a Huawei, a Nokia, a Samsung e a ZTE, alguns dos quais podem vir a ser lançados ainda este ano.
É, contudo, a chinesa Huawei que está no cerne da polémica estando acusada de 13 crimes por procuradores norte-americanos, incluindo fraude bancária e espionagem industrial.
O Congresso dos Estados Unidos chegou, inclusive, a proibir agências governamentais de comprarem produtos da Huawei, ao abrigo da Lei de Autorização de Defesa Nacional, por considerar que a empresa serve a espionagem chinesa.
Ao mesmo tempo, o país tem pressionado vários outros, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei na construção de infraestruturas para redes de 5G.
A empresa tem rejeitado alegações sobre a segurança da sua tecnologia 5G, insistindo que não tem "portas traseiras" para aceder e controlar qualquer dispositivo, sem o conhecimento do utilizador.
A Huawei informou ainda que vai processar o Governo dos Estados Unidos por ter proibido a compra dos equipamentos de telecomunicações pelos serviços públicos.
Entretanto, em meados deste mês, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Nato), Jens Stoltenberg, disse estar a ponderar eventuais ações contra a Huawei, tendo em conta as preocupações de segurança.
Também nessa altura, o Parlamento Europeu mostrou-se preocupado com a ameaça tecnológica chinesa na UE, instando a Comissão Europeia a agir perante possíveis acessos ilegais a dados em equipamentos móveis de 5G.
Já esta semana, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, pediu aos países da UE que garantam livre concorrência para as empresas chinesas, e denunciou tentativas de "afundar" grupos como a Huawei por motivos de segurança.