O especialista franco-israelita, que este sábado fez uma intervenção na 10.ª edição da TEDx Porto, sobre até que o ponto o ser humano deve confiar no seu cérebro, "nunca ouviu falar de Rui Pinto", o hacker português que se encontra detido pelas autoridades, mas de uma coisa afirmou ter a certeza: "os hackers movem-se por interesses particulares".
O que começou por ser uma atividade de "miúdos que queriam melhorar a sua pontuação nos jogos de computador", segundo Moran Cerf, "tornou-se numa arma, não aquelas usadas pelos países nos confrontos bélicos, mas a que se recorre para interesse particulares".
Sublinhando que para, se ser um bom hacker, "há que ter muito atenção aos detalhes e não se ficar apenas pelo que vê", comparou esta atividade à dos cientistas.
Tendo trabalhado durante quase dez anos para o governo israelita, primeiro para o exército e depois para uma empresa estatal, na prevenção de ciberataques, Moran Cerf descobriu "muitas semelhanças entre ataques informáticos e o entendimento do cérebro".
Desse estudo extraiu que os "computadores são impossíveis de serem parados", entendendo, por isso, que "tê-los ligados ao cérebro é uma forma de garantir que não se torna numa guerra, mas sim numa colaboração", até porque, vincou, "não é claro que os humanos ganhariam".
E de um novo mundo que "carece de legislação" para acompanhar a nova realidade, traçou como exemplo um eventual ataque cibernético a Portugal pela Espanha para explicar o que ainda falta fazer.
"Se a Espanha atacar Portugal com um míssil, o governo português responderia da mesma forma. Contudo, se a Espanha fizer um ataque informático a uma instalação portuguesa e durante dois dias a população não tiver comida não é óbvio qual será a resposta portuguesa", argumentou Moran Cerf.
E prosseguiu: "A Coreia do Norte fez vários ataques informáticos aos Estados Unidos, e eles, mesmo sabendo de onde partiu o ataque, limitaram-se a dizer para pararem com aquilo. É uma questão que não está legislada. Não está definida que tipo de resposta, internacionalmente aceite, pode avançar em consequência destes ataques".
Saindo de cenários de guerra para um quotidiano cada vez mais próximo, o especialista deixou outro alerta, quando citou os carros sem condutor: "se há um acidente num carro com condutor, sabemos a quem culpar, mas se tal acontecer num carro gerido por um computador vamos culpar quem ou o quê?".
Para o professor da Kellogg School of Management, nos Estados Unidos, um estudioso destas questões e com muitas palestras dadas, "ninguém conhece exatamente a extensão dos danos causados pelos ataques informáticos, mas os governos dos maiores países colecionam informação".
"Há seis países com hackers ativos - Rússia, China, Coreia do Norte, Irão, Estados Unidos e Israel -, que procuram assim combater ataques informáticos massivos. Aqui não há bons nem maus, todos fazem o mesmo e a História há de julgá-los por isso", revelou.
Questionado pela Lusa se neste cenário a segurança não passa de uma ilusão para o cidadão comum, admitiu-o, mas desdramatizando.
"A verdade é que ainda não tivemos um exemplo de uma destruição massiva causada por um ataque informático. Há uns anos a Sony Studios, em Hollywood, foi atacada, mas isso foi por dinheiro, nada de muito dramático. Depois foi a Apple a reclamar que uma companhia chinesa lhe tinha roubado segredos comerciais, ou seja, outra vez dinheiro", lembrou o especialista.
Na França, Estados Unidos e na Alemanha "viu-se já também, a interferência de 'hackers' com fins políticos, o que é um pouco mais sério, mas ainda não vimos uma guerra", acrescentou antes de avançar com uma previsão.
"Durante o período das nossas vidas a próxima guerra não será como a I ou II Guerra Mundial, disputada com armas, mas talvez porque alguém, por exemplo, carregou numa tecla e cortou a energia elétrica a um hospital ou provocou a explosão de um reator nuclear, e quando isso acontecer finalmente teremos todos a noção do quão sério é um ciberataque. Será uma guerra entre grandes hackers", disse.